segunda-feira, 3 de março de 2008

Antiguidade Oriental

Como vimos, depois de vários milênios, os seres humanos desenvolveram a agricultura e o pastoreio. Graças a isso, a população pôde crescer e substituir o nomadismo pela vida sedentária. Aos poucos, as relações sociais se tornaram mais complexas. Como resultado, surgiram as primeiras cidades, o comércio, a religião organizada, a escrita e o Estado.
As civilizações descobriram suas potencialidades e teve início uma era que deixou suas marcas no tempo em obras como as pirâmides do Egito, os palácios da Mesopotâmia, os templos indianos e a Muralha da China. Todo esse trabalho foi fruto da cultura e da arte acumuladas por esses povos, que legaram à nossa civilização uma herança imensa.

O Antigo Egito
As primeiras civilizações tiveram origem no Oriente Próximo, há mais de 5 mil anos. Nessa região, alguns povos, já sedentarizados, desenvolveram a escrita, criaram cidades, formas complexas de exploração econômica, de trabalho e de sociedade, governos com instituições bem definidas e organizadas, leis que disciplinavam as relações sociais e os interesses das comunidades, bem como produziram importantes obras artísticas.
Essas primeiras sociedades surgiram das grandes migrações de grupos humanos que peregrinaram à procura de solos férteis e mananciais de água. Ao alcançarem um grande curso d’água, esses grupos encontravam também condições favoráveis à agricultura. Inicia-se a sedentarização humana, origem das primeiras civilizações conhecidas como civilizações hidráulicas. No Oriente Médio, a área onde se desenvolveram as civilizações hidráulicas ficou conhecida como Crescente Fértil.
As cheias periódicas do rio Nilo transformou o Egito numa espécie de oásis em meio ao deserto do nordeste africano. Elas são provocadas por chuvas abundantes que caem na nascente do rio, no interior do continente. Com as cheias, as águas inundam uma grande extensão das margens e formam uma espécie de limo, o húmus, que torna as terras muito férteis.
Desde o período neolítico, os grupos humanos que viviam nessa região perceberam que poderiam tirar proveito disso. Aprenderam que, ao serem plantados logo após o recuo das águas, os vegetais cresciam rapidamente e podiam ser colhidos antes do início da nova enchente.
Ao longo de muitas gerações, os egípcios foram aprimorando um amplo sistema de irrigação. Construindo diques e canais, aprenderam a controlar e a aproveitar ao máximo as inundações para o desenvolvimento da agricultura.

Transformações sociais e políticas
Inicialmente, os grupos que se estabeleceram próximo ao Nilo formaram aldeias chamadas nomos, no interior dos quais famílias ou clãs cultuavam um antepassado comum e um deus local, este representado em geral pela figura de um animal. O crescimento populacional dos nomos levou à luta pela posse das áreas cultiváveis. Concretizou-se, então, a diferenciação social entre os que se apossaram das terras – os proprietários – e os que tinham apenas sua força de trabalho – os camponeses. Os proprietários das terras esforçavam-se para mantê-las por meio da força e da proteção dos deuses e dos sacerdotes. Dessa forma, organizou-se a sociedade com a escolha de um chefe (nomarca) que representava os proprietários das terras ribeirinhas e que procurava conservar essa estrutura de poder.
A fim de obter melhor aproveitamento das cheias do grande rio, tais comunidades de uniam para efetuar a construção de diques e de canais de irrigação.
Com o tempo, os agrupamentos acabaram originando dois reinos distintos, correspondentes ao Alto e ao Baixo Egito.
O Alto Egito ficava ao sul, e era formado pelo extenso vale ao longo das margens do Nilo. O Baixo Egito, ao norte, organizava-se em torno do delta formado pelo rio ao desaguar no mar Mediterrâneo.
Por volta de 3200 a.C., Menés, soberano do Alto Egito, impôs a unificação dos dois reinos,tomando para si o título de faraó, iniciando a história dinástica do Egito. Os nomarcas passaram a representar o poder central nas suas comunidades, formando a nobreza local.
A partir desse momento, pode-se dividir a história do Egito antigo em quatro longos períodos, nos quais os faraós conseguiram manter o poder.

Antigo Império (cerca de 3200 – 2000 a.C.). Durante a maior parte desse período, o centro administrativo do Egito era a cidade de Mênfis, localizada no delta do Nilo. Dentre os faraós mais conhecidos dessa fase encontram-se Quéops, Quéfren e Miquerinos. Foram eles que mandaram construir, para servir-lhes de túmulos, as grandes pirâmides da planície de Gizé (cerca de 2600 a.C.). A partir de 2350 a.C., lutas entre os líderes dos nomos e desorganização do poder central geraram crises que acabaram por enfraquecer a autoridade do faraó.
Médio Império (2000 – 1580 a.C.). O poder do faraó foi restaurado por governantes do Alto Egito. Dessa vez, o centro administrativo se estabeleceu em Tebas. Seguiu-se um longo período de relativa prosperidade que durou cerca de quatrocentos anos, até a invasão dos hicsos. Utilizando armas e recursos de guerra desconhecidos dos egípcios, esse povo, proveniente da Ásia ocidental, dominou e subjugou o Egito durante quase duzentos anos. Nesse mesmo período, os hebreus também se instalaram na terra dos faraós.
Novo Império (1580-1085 a.C.). Período iniciado com a expulsão dos hicsos por soberanos do Alto Egito, que restabeleceram a autonomia na região e consolidaram a autoridade do faraó sobre todo território. Destacam-se os governos dos faraós Tutmés III e Ramsés II, que converteram o Egito, durante muito tempo, na região mais poderosa do Crescente Fértil. O comércio se expandiu, tanto por terra como por mar. Nessa época, foram construídos os templos de Luxor e Carnac.
A partir do século XII a.C., teve início um período de enfraquecimento do poder dos faraós, ocasionado por disputas internas. Desestabilizado o poder central, o Egito sofreu sucessivas invasões, culminando com a conquista do Império pelos assírios, em 671 a.C.
Renascimento Saíta (663-525 a.C.). Príncipes de Saís, cidade localizada no delta do Nilo, lideraram os egípcios na expulsão dos assírios e possibilitaram, mais uma vez, o fortalecimento da sociedade egípcia. A estabilidade durou pouco, entretanto.
Em 525 a.C., os persas dominaram o Egito que, a partir de então, não conseguiu mais recuperar sua autonomia. Depois do domínio persa, o território seria sucessivamente conquistado por gregos e romanos.
A conquista do país por Alexandre Magno, em 332 a.C., e pelos romanos, no ano 30 a.C., introduziu o Egito na esfera do mundo clássico, embora persistissem suas antigas tradições artísticas.

Os grupos sociais
A sociedade egípcia era dividida em camadas sociais entre as quais havia profundas diferenças. Todo poder estava concentrado nas mãos do faraó, que era considerado um deus. Chamamos essa forma de governo teocracia. O faraó era o grande sacerdote, o chefe dos exército, o juíz.
Os sacerdotes constituíam uma categoria poderosa e influente, em razão da importância da religião para os egípcios. Como guardiões dos templos, eles recebiam e administravam as oferendas feitas aos deuses pela população.
Os parentes dos faraós e os altos funcionários formavam uma espécie de nobreza. Os últimos administravam, em nome do faraó, as quarenta e duas províncias (ou nomos) unificadas do Egito.
Os escribas (os que sabiam escrever) coletavam os impostos dos camponeses, destacando-se na administração pública. Eram controladores dos rebanhos, das áreas cultivadas, das quantidades de cereais produzidos e armazenados.
A base da estrutura social era formada por camponeses e um grupo reduzido de escravos, em sua maioria prisioneiros de guerra. Seu trabalho era pesado e os fiscais castigavam os que não produziam a contento. Arar, semear, colher, abrir canais, levantar monumentos eram algumas das tarefas que os camponeses tinham de executar.
Uma parte população era constituída por artesãos, que trabalhavam, geralmente, nos ofícios gerados pela construção de templos e túmulos.

A escrita egípcia
A escrita egípcia também foi algo importante para este povo, pois permitiu a divulgação de idéias, comunicação e controle de impostos. Existiam duas formas de escrita: a demótica (mais simplificada) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e símbolos). As paredes internas das pirâmides eram repletas de textos que falavam sobre a vida do faraó, rezas e mensagens para espantar possíveis saqueadores. Uma espécie de papel chamada papiro que era produzida a partir de uma planta de mesmo nome também era utilizado para escrever.
Durante a campanha de Napoleão no Egito, foi trazida para França pelo arqueologista francês Jean François Champollion, no ano de 1799, uma pedra da cidade de Roseta, contendo inscrição em três tipos de alfabeto: hieróglifo, grego e demótico. Em 1822, Champolion, fez comparação do texto grego com o mesmo assunto em hieróglifos, conseguiu decifrar o alfabeto egípcio, dando uma contribuição para os estudos da civilização egípcia.

Atividades econômicas
Todas as terras pertenciam ao faraó. No entanto, a nobreza detinha de fato sua posse. Grande parte das atividades produtivas era organizada e administrada por ele, desde o planejamento e a construção de canais e diques para a irrigação das terras até o armazenamento e a distribuição da produção.
O comércio de cereais e produtos artesanais era feito entre o vale e o delta do Nilo por meio de embarcações. Através dessa atividade comercial, o Egito exportava produtos agrícolas e importava matérias-primas para o artesanato (madeira, ouro, cobre e marfim) e especiarias. Durante o Médio Império, o Egito rompeu seu isolamento com o mundo conhecido e tornou-se o grande celeiro da região mediterrânea, abastecendo diversos mercados.

Uma religião de muitos deuses
Os egípcios foram um povo de profundas crenças religiosas. Isto teve importância na formação de sua civilização e organização social. Adotaram o politeísmo (crença em vários deuses). Desde os tempos mais antigos, os egípcios adoravam numerosos e estranhos deuses. Os primeiros foram animais e cada pessoa tinha o seu animal-deus que a protegia. Adoravam gatos, bois, serpentes, crocodilos, touros, chacais, gazelas, escaravelhos, etc.
No século XIV a.C., o faraó Amenófis IV impôs o monoteísmo para diminuir o poder clerical. O culto ao deus Áton é considerado a primeira manifestação monoteísta que se conhece. O faraó Amenófis IV, casado com Nerfetite, expulsou os sacerdotes de seu palácio, mandou fechar os templos, e passou a chamar-se Aquenáton (filho de Áton). Substituiu o politeísmo pelo monoteísmo de Áton, o deus da bondade, criador do mundo, representado pelo disco solar.
Com a morte de Aquenáton, seu filho e herdeiro, Tutancâmon, ainda muito jovem, restaurou a religião tradicional, eo clero voltou ao poder, reassumindo o controle do Estado. Grandes templos foram construídos em Luixor e Karnak.


A vida após a morte
Como acreditavam na vida após a morte, mumificavam os cadáveres dos faraós colocando-os em pirâmides, com o objetivo de preservar o corpo para a vida seguinte. Esta seria definida, segundo crenças egípcias, pelo deus Osíris em seu tribunal de julgamento.
A preocupação com os mortos levou os egípcios a construir túmulos duradouros. Dentre eles os mais grandiosos são as pirâmides, que guardavam, num compartimento secreto, a múmia dos faraós. Nas mastabas (construções simples, de formato trapezóide) e nos hipogeus (túmulos subterrâneos) ficavam sepultados nobres e sacerdotes.



A arte e o conhecimento científico
A produção artística era predominantemente de inspiração religiosa. Foi para os deuses e para os mortos que os egípcios construíram seus maiores monumentos.
Expressada por meio da pintura, da escultura e da arquitetura, a grandiosidade da arte egípcia ainda hoje nos impressiona. A pirâmide de Quéops, por exemplo, com 146 metros de altura, constitui o mais colossal monumento do mundo antigo. Graças ao trabalho minucioso dos artesãos egípcios, os templos, as colunas e os túmulos tinham as paredes inteiramente decoradas com hieróglifos e desenhos pintados ou esculpidos.
Os egípcios desenvolveram significadamente várias áreas do conhecimento.
As áreas em que mais se destacaram foram a astronomia e a geometria. A necessidade de prever as enchentes do Nilo e de executar obras para o aproveitamento das águas do rio levou-os à observação dos astros e à construção de fórmulas para medir superfícies. Utilizavam a soma, subtração e divisão.
Além disso, criaram um calendário solar, no qual o ano, de 365 dias, era dividido por dozes meses de trinta dias cada, ao qual acrescentavam cinco dias festivos.
Os egípcios também tinham profundos conhecimentos de medicina. Além da habilidade no processo de embalsamamento, que propiciou um grande conhecimento de anatomia, os médicos faziam intervenções cirúrgicas até mesmo em crânios, próteses dentárias, conheciam os sintomas e os tratamentos para infecções de olhos e de ouvidos, bem como a circulação sangüínea.

A Civilização Mesopotâmica
Assim como o vale do Nilo, a Mesopotâmia foi um dos lugares onde se desenvolveram algumas das mais antigas sociedades humanas.
Muitos povos se sucederam na ocupação da Mesopotâmia, como sumérios, babilônicos, caldeus e assírios. Embora esses povos apresentassem muitas diferenças entre si, o intenso intercâmbio mantido entre eles tornou possível a formação de culturas semelhantes, com diversos aspectos em comum.
O nome Mesopotâmia foi dado pelos gregos e significa “terra entre rios” (meso = no meio; potamos = rio). Compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, a Mesopotâmia estava localizada entre áreas montanhosas e desérticas, na extremidade oriental do Crescente Fértil. Dividia-se em duas áreas com características naturais distintas: ao sul, as férteis planícies da Suméria (depois chamada Caldéia); ao norte, o árido e montanhoso solo da Assíria.
O Tigre e o Eufrates nascem nas montanhas da Armênia e correm um ao lado do outro em direção ao golfo Pérsico. Na primavera, o degelo da neve que cobre as montanhas da Armênia provoca inundações, tornando as terras da baixa planície da Suméria extremamente férteis, fenômeno semelhante àquele que ocorre com o Nilo.
Como aconteceu no Egito, foi preciso um enorme esforço dos habitantes da região para controlar as águas das enchentes e poder cultivar as terras em torno dos rios, que de outra forma seriam pântanos férteis, mas inabitáveis. Assim, graças ao trabalho continuado de muitas gerações, foi possível cultivar vegetais e obter colheitas abundantes.

Um mosaico de povos
Por muito tempo, a Mesopotâmia funcionou como uma espécie de corredor por onde passavam povos nômades vindos de diferentes regiões. Atraídos pelas terras férteis, alguns deles ali se estabeleceram. Do convívio entre essas culturas nasceram as sociedades Mesopotâmicas.
Os Sumérios
Os Sumérios foram provavelmente os primeiros a habitar o sul da Mesopotâmia, por volta de 8.500 a.C. Desde o quarto milênio a.C., realizavam obras de irrigação e utilizavam técnicas de metalurgia do bronze, bem como uma forma de escrita chamada cuneiforme.
A construção de grandes obras exigia o esforço conjunto de toda população e uma instituição política capaz de coordenar os trabalhos. Essa instituição seria o Estado.
Como resultado dos esforços coletivos, as comunidades aldeãs sumerianas transformaram-se em comunidades urbanas, das quais se destacaram Ur, Uruk e Lagash. Essas cidades viviam em constantes disputas pelo poder, o que as enfraquecia, favorecendo a invasão de outros povos. Alguns desses povos se estabeleceram na região e chegaram, inclusive, a dominar os sumérios, absorvendo sua cultura e unificando o governo de suas cidades.
Cada cidade possuía poder político independente, o que a caracterizava como um verdadeiro Estado, daí sua qualificação de cidade-Estado. Embora tivessem governos próprios, essas cidades-Estados mantinham fortes laços culturais e econômicos entre si.


Religião e poder
Os sumérios acreditavam em vários deuses, que possuíam forma humana. Cada cidade cultuava uma divindade especial.
O poder máximo era exercido por um rei – o patesí -, que assumia as funções de principal sacerdote do deus local, governador, chefe militar e supervisor das obras hidráulicas. Como representantes dos deuses, o rei era o dono da maior parte das terras e dos impostos arrecadados e, em caso de guerra, ficava com a quase totalidade das riquezas tomadas dos vencidos.
Os sumérios foram o primeiro povo da região a mostrar sinais de civilização: construção de cidades, portanto vida urbana, criação de uma escrita, acentuada divisão social do trabalho, organização de uma forma embrionária de Estado, divisão da sociedade em classes, religião institucionalizada, com sacerdotes profissionais. Sua maneira de se organizar socialmente acabou por influenciar muitos povos que os sucederam na região.

A primeira tentativa de unificação
A sobrevivência na Baixa Mesopotâmia dependia quase inteiramente dos rios. Daí a constância das lutas entre as cidades-estados pelas terras ao longo das margens, fertilizadas pelas cheias.
Essa situação permaneceu até cerca de 2350 a.C., quando Sargão I iniciou a unificação da região. Sargão I estendeu seus por toda a Mesopotâmia. Estabeleceu a capital de seu império em Akkad, daí o nome de civilização acadiana. A tática de não destruir a cultura dos povos conquistados permitiu que elementos importantes da cultura sumeriana fossem conservados pela civilização acadiana.
Após a morte de Sargao, os povos dominados começaram a se revoltar, e o império foi perdendo seus domínios.
O Antigo Império da Babilônia
A cidade da Babilônia formou-se depois do desmembramento do antigo Império Acádio. Em 1728 a.C., Hamurábi, o mais importante rei babilônico, submeteu grande parte da Mesopotâmia.
Em seu governo foi elaborado um dos primeiros códigos de leis da Antiguidade, conhecido como Código de Hamurábi. Nele estavam incluídos, além das leis, tradições e valores da sociedade mesopotâmica. Esse código estabelecia a pena de talião: olho por olho, dente por dente.
Após e morte de Hamurábi, a Mesopotâmia foi abalada por sucessivas invasões, até a chegada dos assírios.

O Império Assírio
De origem semita, os assírios viviam do pastoreio e habitavam as margens do rio Tigre. A partir do final do segundo milênio a.C., passaram a se organizar como sociedade altamente militar e expansionista. Realizaram diversas conquistas e expandiram seu domínio para além da própria Mesopotâmia, chegando ao Egito. O centro administrativo do império assírio era Nínive.
Os responsáveis por essa expansão foram Sargão II, Senaquerib e Assurbanipal.
O exército assírio era um dos mais notáveis da Antigüidade, fato que proporcionou aos assírios o poder de conquistar diversos territórios. A cada território o exército aumentava ainda mais por causa do alistamento obrigatório que esses implementaram. Alguns historiadores acreditam que os assírios pudessem colocar ate 100 mil soldados em campo. Os assírios ficaram famosos por seus métodos violentos de fazer guerra.
Com a morte de Assurbanipal o Império entrou em decadencia e inúmeras revoltas dos povos dominados levaram os assírios à derrota em 612 a.C. Nesse ano, Nínive foi tomada por uma coalizão de medos e caldeus.
O Novo Império da Babilônia
Os caldeus, povo de origem semita que se estabeleceu na Mesopotâmia no início do primeiro milênio a.C., foram os principais responsáveis pela derrota dos assírios e pela organização do novo império babilônico, maior e mais poderoso que o primeiro. Nabucodonosor foi o soberano mais conhecido dos caldeus, que governou por quase sessenta anos.
Durante o reinado de Nabucodonosor deu-se o Cativeiro da Babilônia, famoso episódio de escravidão dos hebreus. Após sua morte, os persas dominaram o novo império babilônico.
Estado e Sociedade
Embora fossem considerados representantes dos deuses e não divindades, como os faraós do Egito, os soberanos da Mesopotâmia também exerciam forte domínio sobre a sociedade.
A agricultura era a principal atividade econômica da Mesopotâmia. Seu desenvolvimento, assim como no Egito, dependia do controle das águas dos rios.
As terras pertenciam àqueles que representavam os deuses, mas seu cultivo era comunitário. Parte das colheitas devia obrigatoriamente ser entregue aos chefes ou funcionários como forma de pagamento pela exploração do solo.
Como no Egito, a sociedade encontrava-se rigidamente dividida em camadas sociais. Governantes, sacerdotes, guerreiros e comerciantes estavam entre os grupos mais privilegiados. Camponeses livres, artesãos e escravos ficavam entre os mais oprimidos.

Uma escrita singular
A escrita mesopotâmica, criada pelos sumérios, é conhecida como cuneiforme justamente porque seus sinais, talhados em placas de argilas, tinham a forma de pequenas cunhas. A localização geográfica e o conseqüente intercâmbio com populações vizinhas fizeram com que essa escrita fosse adotada por quase todos os povos da Ásia ocidental.

Deuses severos e Exigentes
Na mesopotâmia, assim como no Egito, a religião era politeísta. Os povos mesopotâmicos também temiam entidades regidas por forças sobrenaturais como gênios protetores, os heróis e os demônios.
Nos primeiros tempos, cada cidade tinha seus deuses específicos. Quando uma unificação política ocorria, a cidadeprincipal impunha suas divindades às outras.
Os deuses mesopotâmicos eram ao mesmo tempo entidades do bem e do mal. Exigentes e temíveis, adotavam represálias contra aqueles que não cumpriam suas obrigações. Essa crença originou, por exemplo, o mito do dilúvio, desecadeado pelos deuses para castigar os seres humanos.
Diferentemente dos egípcios, os mesopotâmicos não chegaram a se preocupar com a vida além-túmulo. Acreditavam, vagamente, que os mortos iam para junto de Nergal, deus do “reino de onde não se volta”, cujos domínios eram guardados pelos demônios causadores das doenças.


A invenção da astrologia
Os mesopotâmicos devotavam grande consideração aos adivinhos, indivíduos a quem se atribuía a capacidade de descobrir a vontade dos deuses, por meio da interpretação dos sonhos, do vôo dos pássaros ou mesmo dos sinais encontrados no fígado e nas entranhas dos animais sacrificados aos deuses.
O procedimento mais utilizado, no entanto, era a astrologia, conhecida por nós nos tempos de hoje. De acordo com os mesopotâmios, seria possível antever o destino de uma pessoa pela análise da posição dos astros no céu no momento de seu nascimento.

Outros povos do Oriente Próximo
Além dos egípcios e dos povos da Mesopotâmia, inúmeros foram os grupos humanos que habitaram a região do Crescente Fértil.
Sempre em busca de melhores condições de sobrevivência, esses grupos foram ocupando diferentes áreas da região em diferentes momentos.
Estão entre eles cananeus, filisteus, arameus, lídios, hititas, cretenses, fenícios, hebreus, persas, entre outros. Dentre esses povos destacam-se os fenícios, os hebreus e os persas. Cada um deles desenvolveu uma complexa civilização que legou conhecimentos e valores à humanidade que pertencem até os dias de hoje.

Os fenícios
A Fenícia, que corresponde aproximadamente ao Líbano atual, era uma estreita faixa de terra, espremida entre as montanhas entre as montanhas e o mar e com poucas áreas cultiváveis. Fixaram-se nessa região por volta de 3.000 a.C.

A pobreza do solo para a prática da agricultura fez com que os fenícios se dedicassem inicialmente à atividades como a pesca e a extração de cedro, madeira abundante em florestas no interior dessa região.
A proximidade com a costa marítima e a intensificação gradual das atividades pesqueiras contribuíram para que os fenícios se dedicassem à construção de embarcações e se tornassem hábeis navegadores.
Ao contrário dos egípcios, os fenícios não constituíam um império territorial com governo único e centralizado. Sua forma de organização política foi a cidade-Estado, sistema pelo qual cada cidade tinha seu próprio governo independente das outras. Dessa forma, quando falamos da Fenícia, estamos nos referindo ao conjunto de cidades-Estado que abrigavam a população fenícia. Entre as principais cidades fenícias, três exerceram a supremacia política na região: Biblos, Sídon e Tiro.
Sob o domínio de Tiro, a sociedade fenícia alcançou o período de maior poder. Seu porto chegou a ser, entre os séculos XII e VII a.C., o mais importante centro de comércio e de artesanato do Mediterrâneo oriental. Sua primazia foi enfraquecida por lutas entre as famílias dominantes da cidade. Com a decadência, a Fenícia acabou sendo conquistada, sucessivamente, pelos babilônicos, persas e macedônicos.
Durante esse período, os fenícios navegaram por todo o Mediterrâneo, fundando colônias e organizando numerosos locais para a prática do comércio. Assim, acabaram expandindo seus domínios e intensificando as relações com povos diferentes.
Pouco antes da tomada de Tiro, os fenícios fundaram a colônia de Cartago, no norte da África. Após a conquista definitiva de Tiro, alguns de seus habitantes fugiram e se instalaram na colônia africana. Posteriormente, Cartago transformou-se num importante império marítimo, que mais tarde, disputaria com os romanos o domínio do Mediterrâneo ocidental.

O alfabeto
Os fenícios foram grandes navegadores, colonizadores e comerciantes. Entretanto, sua mais importante contribuição para as sociedades atuais foi a criação, por volta de 1500 a.C., dos símbolos que possibilitaram a forma moderna de escritura: o alfabeto.
O desenvolvimento do alfabeto pode estar relacionado com a busca de uma forma rápida e fácil de registrar as transações comerciais. Em vez de centenas de caracteres da escrita cuneiforme ou hieroglífica, os fenícios desenvolveram um conjunto de apenas vinte e duas letras que correspondiam ao som da voz humana.
O alfabeto seria aperfeiçoado pelos gregos, que acrescentaram cinco vogais às consoantes fenícias. Adotado posteriormente pelos romanos, passou por outras transformações e assumiu a forma conhecida atualmente.

Os hebreus
Os hebreus eram um dos muitos povos semitas que habitavam a região do Crescente Fértil. A importância desse povo reside, principalmente, no fato de ele ter introduzido a primeira religião monoteísta entre os povos da Antiguidade.
Da religião dos hebreus, baseada na crença em um só Deus (em hebraico, Iavé, posteriormente traduzido para Jeová), derivam o cristianismo e o Islamismo.
Muito do que se sabe a respeito da história antiga dos hebreus – também chamados israelitas ou judeus – baseia-se no Antigo Testamento, a primeira parte da Bíblia. Pesquisas arqueológicas feitas nas regiões descritas nesses relatos confirmaram muitos dos acontecimentos ali contados.

Canaã, a Terra Prometida
No início do segundo milênio a.C., os hebreus estavam estabelecidos nas imediações da cidade de Ur, na Mesopotâmia.
Vivendo do pastoreio, organizaram-se em clãs ou tribos, grupos familiares dirigidos pelos homens mais idosos, chamados de patriarcas. Segundo a bíblia, coube ao patriarca Abraão, obedecendo a ordem de Deus, partir com seu povo em direção à Terra Prometida, chamada depois de Canaã ou Palestina.
Mais tarde, pressionado, pela escassez de alimentos, uma parte dos hebreus, sob o patriarcado de Jacó, deixou Canaã e migrou para o Egito, por volta de 1.600 a.C. Nesse momento, os hebreus haviam sido reduzidos à condição de escravos. Por volta de 1.200 a.C., conduzidos por um novo chefe chamado Moisés, eles fugiram do vale do Nilo, episódio conhecido na Bíblia como Êxodo.
Depois de permanecer quarenta anos no deserto, Moisés reconduziu seu povo a Canaã, cuja posse tiveram que disputar com os cananeus, estabelecidos na região, e com os filisteus, que chegaram depois.
Distribuídos em doze tribos independentes, os hebreus foram, lenta e dificilmente, impondo seu domínio. Para conduzi-los nas inúmeras guerras, que tinham de travar, escolhiam um chefe militar, chamado de juiz.
A monarquia
A necessidade de lutar pela posse de terras acabou levando os judeus a estabelecer uma autoridade única para todas as tribos. O juiz, assim, transformou-se em juiz. O primeiro rei a assumir o poder foi Saul, vindo a seguir Davi e Salomão.
Após a morte de Salomão, ocorreu a Cisma (divisão) das tribos hebraicas (926 a.C.). As dez tribos ao norte constituíram o Reino de Israel, com capital em Samaria; as duas tribos restantes formaram o Reino de Judá, ao sul, cuja capital foi instalada em Jerusalém. Em decorrência dessa divisão interna, houve um enfraquecimento militar, estimulando ataques de povos vizinhos. O Reino de Israel foi invadido e ocupado pelos exércitos assírios no reinado de Sargão II, no século VIII a.C. Judá não resistiu às tropas do rei caldeu Nabucodonosor, que destruíram o Templo de Salomão e levaram os hebreus cativos para a babilônia, em 587 a.C. O episódio, conhecido como cativeiro da Babilônia, só terminou em 539 a.C., quando o rei persa Ciro conquistou a Mesopotâmia e libertou os hebreus, permitindo-lhes regressar aos seus antigos territórios entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo. O Templo foi restaurado e os hebreus mantiveram uma política de aliança com o império persa, do qual a Palestina se tornou uma parte.
Invasões e domínios tornaram-se comuns na Palestina a partir de então, como a conquista macedônica liderada por Alexandre, em 332 a.C. Em 63 a.C. sobreveio a invasão romana, contra a qual os hebreus se revoltaram em 70 d.C., mas, derrotados, foram forçados a deixar a Palestina, dispersando-se pelo Império Romano. Esse episódio ficou conhecido como Diáspora, somente encerrada com a criação do Estado de Israel, em 1948.

Os persas
No segundo milênio a.C., a região situada a leste da Mesopotâmia era ocupada por dois povos: os persas e os medos. Os medos estavam fixados no norte do planalto, enquanto os persas se estabeleceram na parte sudeste, próxima ao golfo Pérsico, região hoje ocupada pelo Irã.
Grandes conquistadores, os persas dominaram a Babilônia, a Palestina, a Fenícia e o Egito, fundando o maior império daquela região até então. Sabiam domar e usar com habilidade os cavalos, e sua superioridade militar se devia à cavalaria e a seus carros de guerra.

O reinado de Ciro
Inicialmente, eram os medos quem mantinham o controle da região, dominando os persas. Coube a Ciro (549-529 a.C.), inverter a relação, submetendo os medos e tornando-se soberano dos dois povos. Ciro foi responsável por outras conquistas que deram origem ao grande Império Persa.
Ciro deixou uma imagem de tolerância. Não interferia na religião nem promovia extermínio, transferências ou escravização dos vencidos. Morto em combate, foi sucedido pelo seu filho, Cambises, que conquistou o Egito em 525 a.C. Mas foi no governo de Dario I que os persas viveram o período de maior estabilidade. Nele, o Império Persa cresceu, estendendo-se do Mar Negro e do Egito até a fronteira ocidental da Índia.
Ao tentar subjugar a Grécia, contudo, Dario I sofreu sua primeira grande derrota. A partir de então, teve início o enfraquecimento e o conseqüente declínio do Império.

A organização do Império
O imperador era considerado um representante de Ormuz o deus do bem. A política de Ciro de permitir que cada povo conquistado conservasse o governo, a religião, a língua e os costumes próprios foi mantida por seus sucessores.
Com o tempo, o Império foi dividido em províncias, denominadas Satrapias, que eram administradas por um sátrapa (espécie de governador). A principal função dos sátrapas era a cobrança de impostos.
Para assegurar o acesso e o controle de cada recanto do vasto império, foram construídas longas estradas. A principal delas ligava Sardes a Susa. Um eficiente serviço de correios mantinha o imperador informado do que se passava em todas as províncias.
Outra importante contribuição do Império foi a generalização do uso da moeda para facilitar o comércio e a cobrança de impostos em todo o território.

O Bem e o Mal
Os persas assimilaram grande parte da escrita, do conhecimento e da arte dos povos conquistados, principalmente a culturas dos mesopotâmios e dos egípcios.
A religião, ao contrário, possuía caracteristicas próprias e diferenciadas. Ela havia sido difundida no século VII a. C. pelo sábio Zaratustra (Zoroastro para os gregos).
O zoroastrismo apregoava a existência de dois princípios opostos: O Bem e o Mal. Aura Mazda (Ormuz), criador do céu, da terra, dos seres humanos e de tudo o que havia de bom. Era auxiliado por uma legião de gênios benfeitores, dos quais o mais conhecido era Mitra, e combatido por Ahrimam, deus do mal, e pelos seus auxiliares, os demônios. Os persas acreditavam que no final dos tempos o bem deveria vencer o mal e dar início a uma vida feliz na Terra.
O zoroastrismo ensinava que, três dias após a morte, a alma era julgada e os seus atos pesados. Caso absolvida, a alma ganhava a felicidade eterna; se condenada, tombava no abismo das trevas e da dor. O zoroastrismo influenciou muitas religiões. Com o tempo, porém, foi se subdividindo até quase desaparecer. Hoje subsiste principalmente na Índia.