sábado, 6 de dezembro de 2008

A formação dos Estados Nacionais




Se você perguntar a um adolescente qual a sua nacionalidade ele certamente responderá: sou argentino, sou português, sou brasileiro, sou canadense, sou alemão. Mas se você fizesse essa mesma pergunta a um adolescente, por exemplo, do século XII ele não saberia responder. Não que os adolescentes de hoje são mais inteligentes que os do século XII. É que naquela época não havia países. Não nos modelos que conhecemos hoje. O máximo que eles responderiam era: sou da região dos Flandes, sou de Toulouse, sou do reino de Castela, sou da região da Toscana.
Esse blog é escrito em português e se algum internauta de qualquer lugar do mundo acessá-lo, o seu navegador se encarregará de traduzi-lo. Se no entanto, ele fosse escrito no século XII isso não seria necessário porque provavelmente eu o estaria escrevendo em latim. O latim era língua universal dos eruditos. As crianças naquela época não estudavam inglês, alemão, holandês ou italiano. Estudavam latim. Falava-se inglês, alemão etc., mas essas línguas só mais tarde passaram a ser escritas. O monge espanhol com sua Bíblia na Espanha lia as mesmas palavras latinas que eram lidas pelos monges de um mosteiro inglês.
A religião também era universal. Quem se considerasse cristão nascia na Igreja Católica. Não havia outra.
E, espontaneamente ou a contragosto, era necessário pagar impostos a essa Igreja e sujeitar-se às suas regras e regulamentos.
Os serviços religiosos em Southampton muito se assemelhavam aos de Gênova. Não havia limites estatais à religião.
Muita gente pensa hoje que as crianças nascem com o instinto de patriotismo nacional. Evidentemente isso não é verdade. O patriotismo nacional.. vem em grande parte de se ler e ouvir falar constantemente nos grandes feitos dos heróis nacionais. As crianças do século X não encontravam em seus livros didáticos desenhos de navios de seu país afundando os de um país inimigo.
Por uma razão muito simples: não havia países, tal como os conhecemos hoje.
Mas em fins da Idade Média, no decorrer do século XV, tudo isso se modificou. Surgiram nações, as divisões nacionais se tornaram acentuadas, as literaturas nacionais fizeram seu aparecimento, e regulamentações nacionais para a indústria substituíram as regulamentações locais. Passaram a existir leis nacionais, línguas nacionais e até mesmo Igrejas nacionais. Os homens começaram a considerar-se não como cidadãos de Madri, de Kent ou de Paris, mas como da Espanha, Inglaterra ou França. Passaram a dever fidelidade não à sua cidade ou ao senhor feudal, mas ao rei, que é o monarca de toda uma nação.
Mas como ocorreu essa evolução do Estado nacional? Foram muitas as razões políticas, religiosas, sociais, econômicas. É o que veremos a seguir.
Se vocês voltarem para o tópico "A Baixa Idade Média e o Declínio do Feudalismo", irão observar as transformações ocorridas nesse período. Entre elas está a formação de uma nova classe social: a burguesia. Quem eram os burgueses, lembram? Ricos comerciantes, banqueiros, mestres de ofícios... Na verdade, o surgimento dessa classe é que terá uma grande relevância para os acontecimentos do período. São eles que vão reivindicar melhorias para o comércio, para as estradas, para as cidades, para o desenvolvimento das transações comerciais entre as regiões próximas e distantes.
O mais rico é quem mais se preocupa com o numero de guardas que há em seu quarteirão. Os que se utilizam das estradas para enviar suas mercadorias ou dinheiro a outros lugares são os que mais reclamam proteção contra assaltos e isenção de taxas de pedágio. A confusão e a insegurança não são boas para os negócios. A classe média queria ordem e segurança.
Para quem se poderia voltar? Quem, na organização feudal, lhe podia garantir a ordem e a segurança? No passado, a proteção era proporcionada pela nobreza, pelos senhores feudais. Mas fora contra as extorsões desses mesmos senhores quê as cidades haviam lutado. Eram os exércitos feudais que pilhavam, destruíam e roubavam. Os soldados dos nobres, não recebendo pagamento regular pelos seus serviços, saqueavam cidades e roubavam tudo o que podiam levar. As lutas entre os senhores guerreiros freqüentemente representavam a desgraça para a população local, qualquer que fosse o vencedor. Era a presença de senhores diferentes em diferentes lugares ao longo das estradas comerciais que tornava.. os negócios tão difíceis. Necessitava-se de uma autoridade central, um Estado nacional", um poder supremo que pudesse colocar em ordem o caos feudal. Os velhos senhores já não podiam preencher sua função social. Sua época passara. Era chegado o momento oportuno para um poder central forte.
Na Idade Média, a autoridade do rei existia...teoricamente, mas de fato era fraca.
Os grandes barões feudais eram praticamente independentes. Seu poderio tinha de ser controlado, e realmente o foi.

As bases do poder real

As monarquias, com o intuito de se fortalecerem e garantirem sua soberania, investiram na criação de exércitos profissionais, disciplinados e fiéis à autoridade dos reis. A evolução das técnicas militares, com o surgimento da artilharia, tornou os exércitos reais mais poderosos. A cavalaria, organização bélica tradicional em que a nobreza assentava seu poder, tornou-se, aos poucos, obsoleta frente às novas técnicas de guerra.
Em uma época de insegurança gerada por constantes guerras, a coroa assumiu a responsabilidade de defender o reino, os bens e a segurança de seus súditos.
O desenvolvimento de um eficiente aparato administrativo, jurídico e burocrático também teve grande importância para legitimar a autoridade monárquica. Conselheiros militares, administrativos e financeiros foram recrutados para auxiliar o rei, que passou a contar com
ministros inspetores e cobradores de impostos.

O rei entre a nobreza e a burguesia

A consolidação do poder dos reis se deu por meio do apoio da nobreza e da burguesia. Embora tivesse que diminuir os poderes da nobreza para aumentar os seus e, ainda, combater alguns senhores feudais rebeldes, a monarquia não adotou somente atitudes hostis em relação aos nobres. A coroa também se aliava a esses nobres, procurando pacificá-los e atrai-los para o seu círculo de influência, concedendo-lhes altos cargos militares e administrativos do Estado, além de
privilégios, como isenções de impostos e pensões.
Por outro lado, os reis encontravam na burguesia uma importante aliada, pois esta fomentava as atividades comerciais, o que aumentava as rendas do Estado. Em troca, a monarquia facilitava os negócios da burguesia, oferecendo segurança para as rotas comerciais e padronizando a moeda, os pesos e as medidas.

A formação das Monarquias Ibéricas

No século X, a maior parte da península Ibérica era controlada pelos muçulmanos. A exceção era o norte, onde os povos cristãos se refugiaram e conseguiram manter sua independência. Do norte, os reinos cristãos de Leão, Castela e Aragão iniciaram a luta para recuperar seus territórios. A Reconquista, como ficou conhecido esse movimento, de reação cristã, ganhou impulso no século XI, quando o papa Alexandre II prometeu o perdão dos pecados àqueles que ajudassem os ibéricos na luta
contra os muçulmanos. Além da piedade religiosa, motivos materiais, como a conquista de terras e dos bens saqueados dos inimigos, também atraíram a ajuda de estrangeiros - principalmente de nobres franceses - , que colabararam com os cristãos ibéricos nessa luta.

O fim do Império Bizantino

Durante a Idade Média européia, a China e a Índia estiveram em paz. Por volta de 1200, os mongóis, pastores das estepes asiáticas, se unificaram sob a liderança de um chefe supremo - Gênghis Khan, “imperador de todos os homens”. Em menos de vinte anos conquistaram o centro da Ásia, a Pérsia e o Turquestão. Em 1222, penetraram na Rússia e se fixaram às margens do mar Negro. O neto de Gênghis Khan, Mon Khan, conquistou a China, até então independente, e avançou em direção à Europa. Os mongóis se estabeleceram na Hungria e chegaram até o mar Adriático. Seus sucessores preferiram centrar o império na China e iniciaram uma política de abertura para a Europa: durante o reinado de Kublai Khan, Marco Polo realizou sua viagem à China.
Essa política de boas relações acabou em 1370. O guerreiro turco Tamerlão, que conseguiu apoderar-se do império mongol, decidiu empreender a conquista da Europa.
A queda de Bizâncio
Os otomanos, que haviam sido derrotados pelos mongóis durante sua primeira tentativa de tomar Bizâncio, conseguiram, em 1453, conquistar a cidade. Era o fim do Império Bizantino, o antigo Império Romano do Oriente.
Bizâncio, desde então chamada Istambul, foi capital do Império Otomano durante muitos séculos.
Mas, derrotado por tropas cristãs de Espanha, Veneza e de Malta em 1571, o mundo muçulmano entra num período de lenta decadência.

O Fim da Idade Média

Nos dois últimos séculos da Idade Média, começaram a despontar os sinais dos novos tempos que revolucionaram a vida da humanidade a partir do século XV. Nesse período, a Europa experimentou uma série de mudanças: os reinos cristãos se consolidaram e expandiram suas fronteiras internas, o comércio de produtos de luxo e alimentos ganhou impulso.
A mudança das condições políticas, sociais, econômicas e culturais na Europa cristã do século XV definiu uma nova idade histórica: a Idade Moderna. Vimos que vários fatores contribuíram para enfraquecer o poder dos senhores feudais a partir do século XIII. A centralização e o fortalecimento dos Estados nacionais tiraram uma boa parcela de seu poder.
Durante os últimos dois séculos da Idade Média, a Europa feudal se expandiu. Novas terras foram colonizadas; a população aumentou. Havia uma necessidade real de ampliar a produção de alimentos.
A expansão atlântica foi a segunda expansão européia, por assim dizer. Do mesmo modo, a expansão comercial do final da Idade Média exigia metais preciosos, sobretudo ouro e prata.
Os “descobrimentos” do fim do século XV e início do século XVI ampliaram o espaço geográfico dos europeus. Povos que se desconheciam mutuamente entraram em contato. O capitalismo comercial aproveitou a expansão ultramarina e trouxe para a Europa novos produtos e oportunidades de investimento.
Os Estados nacionais se fortaleceram ainda mais com a formação de impérios coloniais ultramarinos: o sistema colonial do início dos tempos modernos visava aumentar a arrecadação de impostos da Coroa e enriquecer as monarquias nacionais. A economia
mundial capitalista estava prestes a nascer.
Ao mesmo tempo, surgiram uma nova mentalidade e uma nova ética. A reforma religiosa do início do século XVI ajudou a fixar novos padrões de comportamento, mais afinados com os novos tempos. As cidades tornaram-se os centros da nova cultura que surgiu na Idade Moderna.

domingo, 31 de agosto de 2008



A lenda de Rômulo e Remo
A lenda que narra a fundação da cidade de Roma é conhecida no mundo inteiro. O escritor Virgílio, autor da Eneida, conta que Enéias, um príncipe troiano, fugiu para a península Itálica depois que os gregos destruíram a cidade de Tróia. No Lácio, fundou a cidade de Alba Longa.
A lenda conta que Enéias foi sucedido por doze reis, até que houve uma briga entre dois irmãos que queriam ser os reis de Alba Longa.
A disputa pelo trono
O irmão que venceu, mandou matar os filhos e os netos do outro irmão. Os gêmeos, Rômulo e Remo, foram jogados pelo tio-avô no rio Tibre. Os deuses protegeram os meninos, que foram amamentados por uma loba e criados por uma familia de pastores.
Uma vez adultos, Rômulo e Remo voltaram para Alba Longa, mataram o tio-avô e devolveram o trono da cidade ao legítimo sucessor, o avô deles. O avô permitiu que eles fundassem uma cidade. Assim, Rômulo fundou a cidade de Roma, sobre sete colinas, junto com alguns seguidores.
O governo dos romanos
A lenda narrada por Virgílio também revela que depois de Rômulo, a cidade de Roma teve sete reis. Rômulo matou seu irmão, Remo, e foi o primeiro rei de Roma. Ele organizou o Senado, uma das principais instituições de governo em Roma, e dividiu a sociedade romana em dois grupos: os patrícios e os plebeus. Rômulo foi sucedido por outros três reis romanos. Depois disso, Roma foi governada por três reis etruscos, conforme já vimos.
A sociedade romana
Vejamos, agora, como era a sociedade romana durante a monarquia. O povo romano era formado pelos descendentes das famílias que teriam participado da fundação de Roma. Eles eram os patrícios, descendentes dos fundadores da cidade. Só eles podiam ocupar os cargos públicos e governar. Além disso, tinham se apossado das melhores terras da região e formavam uma aristocracia de várias famílias ligadas por laços de parentesco. Cada família formava uma gens. Os chefes das gens integravam o Senado romano.
Os patrícios romanos se reuniam numa assembléia chamada comício, para propor e votar as leis da cidade. Os patrícios eram classificados em trinta grupos de famílias chamados de cúrias. O comícios curiados escolhiam os reis e os demais funcionários do governo.
O outro grupo da sociedade romana era constituído pelos plebeus. A plebe era formada pelos estrangeiros e pelos romanos que não tinham um antepassado que houvesse participado da fundação da cidade. Os plebeus viviam livremente em Roma, embora não tivessem direitos e não participassem do governo.
Para melhorar a situação de vida, muitos plebeus se tornavam protegidos, ou clientes, de alguma família patrícia. Em troca, tinham de prestar favores a esses patrícios.
Roma também contava com um grande número de escravos. Os escravos eram tratados como se fossem coisas. Eles nem existiam na legislação romana. Os plebeus que não pudessem pagar suas dívidas e os prisioneiros de guerra eram escravizados.



A família romana
A família teve um papel muito importante dentro da sociedade romana. Toda a organização da sociedade girava em torno dos laços de parentesco, e estes laços, por sua vez, estavam ligados à religião.
A família romana era formada por todos aqueles que prestavam homenagem a um antepassado. Isso incluía o pai, a mãe, os filhos, os clientes e até os escravos.
A autoridade do pai era absoluta dentro de casa. Ele tinha poder de vida e morte sobre a mulher e os filhos. A figura da mãe era muito respeitada e gozava de muito prestígio. Apesar disso, a mulher não participava da vida pública nem tinha independência dentro de casa: lá era subordinada ao pai, ao marido ou ao filho mais velho.



A religião
Os romanos eram muito religiosos. Mas eram tão supersticiosos que achavam que tinham de adotar os deuses dos povos com os quais entravam em contato para facilitar a convivência entre ambos. Graças a isso, a religião romana assimilou as crenças de vários povos.
Os latinos praticavam o culto doméstico, veneravam os espíritos dos antepassados e os lares, os gênios protetores da casa. O pai da família desempenhava o papel de sacerdote.
Cada cidade tinha seu altar com fogo sagrado no templo de Vesta, a deusa protetora do Estado. Lá, as vestais, virgens de famílias importantes, alimentavam o fogo sagrado.
Sob o domínio dos etruscos, os latinos adotaram os deuses deles, seus rituais de adivinhação e presságios. A partir desse momento, tais rituais marcaram profundamente a vida pública romana. Nessa época, os latinos assimilaram também os rituais sanguinários - as lutas entre gladiadores.
Dos gregos, os romanos assimilaram os deuses do Olimpo, embora lhes tenham trocado os nomes.



Roma republicana (509 a.C.-27 a.C.)
O estabelecimento da república coincide com a expulsão dos etruscos
e o início da expansão territorial de Roma. Inicialmente, os patrícios mantiveram
os privilégios que tinham sob a monarquia. Com o passar do tempo,
foram obrigados a partilhar o poder: os plebeus lutaram para conquistar
o direito de participação no governo. Nessa época surgiu entre os romanos
um forte ideal militar. Em breve, dominariam todo o Mediterrâneo ocidental
e oriental.



As autoridades republicanas
A queda da monarquia romana não significou uma mudança no governo da cidade. A aristocracia patrícia continuou governando, apesar das pressões dos plebeus. A república era governada pela classe dos patrícios. As únicas novidades que a república trouxe, em termos de governo, foram as seguintes:



  • O rei foi substituído por dois cônsules - uma vez por ano, cada cônsul era eleito pelas cúrias patrícias; eles tinham os mesmos poderes que os reis.

  • Em casos excepcionais, ou seja, em caso de guerra ou de algum acidente muito grave, os cônsules eram substituídos por um ditador, que governava durante seis meses; não precisava consultar ninguém para governar, e tinha até direito de vida e morte sobre os cidadãos romanos.

  • O Senado, formado por trezentos membros vitalícios, ou seja, que só eram substituídos quando morriam, assumiu papéis cada vez mais importantes, tais como o controle sobre fundos públicos e o poder de veto sobre os atos da Assembléia, formada por patrícios romanos escolhidos pelas gens.


As lutas sociais entre patrícios e plebeus
A desigualdade social imposta pelos patrícios sobre o resto dos romanos foi contestada pelos plebeus, que lutaram durante duzentos anos para conquistar os mesmos direitos dos patrícios. No final desses duzentos anos, os plebeus conquistaram muitos desses direitos sociais. A diferença que existia entre patrícios e plebeus praticamente desapareceu.
Essas conquistas foram possíveis porque os plebeus formavam a maioria das tropas romanas. Se eles lutavam nas guerras, era justo que eles também participassem do governo da cidade. Com o passar do tempo, os patrícios não tiveram outra saída senão ceder às pressões dos plebeus.



Os magistrados plebeus
Uma das primeiras conquistas dos plebeus foi a possibilidade de terem representantes, magistrados, no governo romano: eram os tribunos da plebe, que defendiam os interesses dos plebeus. Os edis, inspetores plebeus, ajudavam o trabalho dos tribunos, vigiavam a limpeza da cidade, controlavam os preços dos mercados e exerciam certas funções policiais.
Para equilibrar essas conquistas, os patrícios criaram os censores, que também eram patrícios. Eles eram encarregados de fazer as listas de todos os candidatos a cargos públicos e os julgavam, para ver se eram dignos de ocupá- los. Muitas vezes, os censores não permitiam que os candidatos que defendiam os interesses dos plebeus chegassem ao governo.



As leis escritas
Outra conquista dos plebeus foi o acesso às leis romanas. Só os patrícios podiam julgar as disputas que surgiam entre as pessoas, pois só eles conheciam as leis. Os plebeus não tinham como se defender.
Em 454 a.C., formou-se uma comissão de dez juízes que se encarregaram de escrever as leis. A publicação da Lei das Doze Tábuas, assim chamada porque estava escrita em doze pranchas de bronze, facilitou a defesa dos plebeus, e foi o ponto de partida do direito romano.



As assembléias populares
Com o passar do tempo, os plebeus conseguiram o direito de participar dos comícios. As leis começaram a ser discutidas nas assembléias dos integrantes das centúrias. Cada centúria constituía um batalhão do exército. Essas assembléias eram chamadas de comícios centuriados. Como todos os romanos faziam parte do exército, todos participavam desses comícios. Apesar disso, os patrícios ainda tinham mais poder: o exército era formado levando em conta a riqueza dos cidadãos.
Em 470 a.C., a cidade foi dividida em bairros chamados tribos. Cada bairro formava uma assembléia que tinha direito a voto. Nesses comícios por tribos, que também eram chamados de plebiscitos, os plebeus sempre eram a maioria. No início, os patrícios não aceitaram as decisões tomadas pelos plebiscitos. Mas, com o passar do tempo, tiveram de se submeter a essa conquista da plebe.



  • As leis licínias, promulgadas em 367 a.C., obrigavam um dos dois cônsules a ser plebeu.

  • As leis canuléias, promulgadas em 345 a.C., permitiam que os plebeus se casassem com patrícios.

Depois das conquistas obtidas pelos plebeus, todo cidadão romano podia candidatar-se a qualquer cargo público e exercê-lo, fosse ele plebeu ou mesmo patrício.


A expansão romana na Península Itálica


Quando as lutas sociais se apaziguaram, Roma pôde dispor de seu poderoso exército para conquistar a Península Itálica, avançando em direção ao norte (terra dos etruscos) e ao sul, vencendo os samnitas e os gregos. Após dominar a região da Magna Grécia, em 265 a.C., Roma era dona absoluta da península Itálica. Suas aspirações, agora, incluíam terras de além-mar.



As guerras púnicas (264 a. C-146 a. C.)
Depois da conquista da península Itálica, Roma se tornou uma das cidades mais poderosas do Mediterrâneo. Era inevitável, portanto, que seus interesses se chocassem com os de um vizinho muito poderoso: Cartago.
No norte da África, a cidade de Cartago era o centro de um próspero império comercial de origem fenícia. O duelo entre romanos e cartagineses durou 120 anos e se desenvolveu em três etapas.
Foram as chamadas guerras púnicas ("púnico", vem do latim poemi, quer dizer fenício).



  • Na primeira guerra púnica (264 a. C.- 240 a. C.), Roma conseguiu tomar a ilha da Sicília.

  • Na segunda guerra púnica (220 a. C.- 202 a. C.), Roma lutou contra o grande general cartaginês Aníbal, que conseguiu várias vitórias mas não foi capaz de impedir os romanos de reafirmar seu poder sobre a península.

  • Cinqüenta anos após a derrota, Cartago tinha renascido, graças ao comércio. Roma não se conformou e atacou novamente: foi a terceira guerra púnica (150 a. C.-146 a. C.).

Em 146 a.C., Cartago foi totalmente arrasada, e seus habitantes, degolados. O Senado romano ordenou que se passasse um arado sobre as ruínas da cidade, salgou a terra e declarou o território amaldiçoado.
A partir desse momento, o norte da África transformou-se em mais uma província romana. Senhora absoluta do Mediterrâneo, Roma empreendeu a conquista do Oriente, tomando territórios da Grécia e da Síria.

Da crise da República ao fim do Império Romano



A conquista de novos territórios acabou enriquecendo um pequeno grupo de famílias que se encarregaram de governar e administrar as riquezas. Ser governador de uma província era o mesmo que ter ganho um atestado de riqueza. Foi assim que um pequeno grupo, ligado ao Senado, tornou-se praticamente dono da república.
As causas das lutas sociais
Após as guerras, as terras conquistadas eram repartidas entre soldados e colonos romanos. Na realidade, essas terras foram entregues a minorias privilegiadas, ligadas ao Senado. Formaram-se, assim, grandes propriedades, chamadas latifúndios, cultivadas por milhares de escravos, que chegavam como prisioneiros de guerra.
Com a mão-de-obra gratuita dos escravos, os produtos dos latifúndios chegavam a Roma com preços muito baixos, arruinando os pequenos produtores. Para saldar suas dívidas, os colonos tiveram de vender suas terras aos próprios ricos, e acabaram por se juntar ao imenso batalhão de desempregados e mendigos que viviam em Roma.
Não demorou para que se formassem dois partidos, cujos interesses eram radicalmente opostos.



  • De um lado, o Partido Senatorial, formado pela minoria, queria que as
    coisas ficassem como estavam.

  • Do outro lado, o Partido Popular, mais numeroso, mas carente de líderes
    que o organizassem, lutava para diminuir os poderes do Senado.

A luta entre os partidos foi áspera e violenta, e terminou numa sangrenta guerra civil.



Os reformistas
Nesse clima de disputa, surgiram personagens que se dedicaram a promover reformas para melhorar a situação social da maioria dos cidadãos.
O líder do Partido Popular não demorou a surgir. Em 133 a. C., Tibério Graco foi eleito tribuno. Apesar de ser de uma família patrícia, Tibério simpatizava com as causas populares. Ele propôs a lei da Reforma Agrária, em que o Estado deveria dividir as terras em benefício das famílias pobres.
Os ricos, ligados ao Partido Senatorial, assassinaram Tibério e o seu projeto foi esquecido. Dez anos depois, seu irmão mais novo, Caio Graco, aprovou leis que beneficiaram os pobres, distribuindo comida e combatendo o desemprego. Também propôs medidas simpáticas ao Partido Senatorial. Quando tentou conceder a cidadania romana aos demais habitantes da península Itálica, enfrentou a oposição de ricos e pobres. Perseguido pelo Partido Senatorial, suicidou-se em 121 a.C.
Pouco tempo depois do assassinato de Caio Graco, o partido Popular elegeu Caio Mário, militar filho de camponeses. Os sucessos militares de Mário fortaleceram sua posição no partido. A partir desse momento, o exército romano deixou de ser nacional para tornar-se uma força fiel ao chefe. Mário foi eleito cônsul durante seis anos seguidos. Apesar disso, as tão desejadas reformas não se concretizaram.



A primeira guerra civil
Enquanto os dois partidos se desafiavam, aconteceu uma rebelião na Ásia Menor. O Senado declarou a guerra contra Mitridates, rei do Ponto, e nomeou Sila, líder do Partido Senatorial, que já havia sufocado uma revolta de italianos contra o poder romano, como comandante do exército. O Partido Popular não aceitou a nomeação de Sila. Foi o início da guerra civil.
Os dois partidos lutaram nas ruas até que Sila venceu. O Partido Popular foi esmagado e o Partido Senatorial revogou todas as leis que concediam benefícios aos pobres.
Quando terminou a guerra contra Mitridates, Sila teve de voltar para Roma às pressas. Mário havia retornado e iniciado a perseguição aos senatoriais. Sila tornou a entrar com suas tropas em Roma, disposto a derrotar Mário definitivamente. Mário morreu no meio do conflito; e os populares, mal-organizados, não conseguiram enfrentar as tropas de Sila. Após uma terrível matança, Sila dominou a cidade.
O Senado o nomeou ditador perpétuo. Sila decretou a pena de morte para os membros do Partido Popular. Milhares de pessoas foram vítimas de torturas e assassinatos. Sila também aproveitou para reformar as leis, conforme os interesses de seu partido.



  • O Senado se transformou na autoridade máxima da república.

  • Os tribunos e os comícios populares perderam todo o poder.

Em contrapartida, Sila incentivou a construção de obras públicas e distribuiu terras entre os soldados, para diminuir o desemprego. Em 79 a.C., Sila devolveu seus poderes ao Senado e etirou-se.



A luta pelo poder
Depois da retirada de Sila, a liderança do Partido Senatorial ficou por conta dos novos cônsules, os generais Pompeu e Crasso. Eles revogaram as leis repressivas, restabeleceram o poder dos tribunos e diminuíram o poder do Senado. Dessa maneira, a situação política ficou mais equilibrada.
Apesar disso, Roma teve de lidar com várias revoltas, como a de Espártaco, em 72 a.C., que comandou uma sublevação de mais de 70 mil escravos. Também os piratas do Mediterrâneo, aproveitando a confusão, desorganizaram o comércio de Roma.
Esses acontecimentos proporcionaram um bom pretexto para que Pompeu aumentasse sua popularidade, esmagando o que restava da sublevação de escravos.


O Primeiro Triunvirato
Quando Pompeu anunciou que voltaria a Roma, o Senado promoveu uma campanha difamatória, procurando desmoralizá-lo. A essa altura dos acontecimentos, o tribuno Caio Júlio César voltara da Espanha, onde havia realizado um excelente governo. Pompeu aliou-se a Júlio César e a Crasso para derrotar o Senado, em 60 a.C. Eles juraram que apoiariam uns aos outros na repartição das magistraturas. Isso permitiu que governassem sem o Senado. O pacto entre os três foi chamado de triunvirato, o governo de três varões.
Esse pacto, entretanto, não durou muito tempo, pois, mais cedo ou mais tarde, o governo seria exercido por um só homem, o mais forte dos três.


Júlio César (100 a. C.-44 a. C.)
Júlio César sempre simpatizou com as causas populares, pois também era sobrinho adotivo de Mário. Ocupou todos os cargos públicos que um cidadão romano podia ocupar. Além disso, provou uma nova lei agrária e reformou as demais leis. Foi assim que conquistou a confiança dos mais pobres e o temor do Senado.


A segunda guerra civil

Após conquistar a Gália, César tornou-se o homem mais poderoso de Roma. Insatisfeito, Pompeu rompeu a aliança do triunvirato e juntou-se ao Partido Senatorial. Ele forçou o Senado a proclamá-lo ditador e exigiu que César voltasse para Roma sem os seus exércitos. Estimulado pelas tropas que liderava, César atravessou o rio Rubicão com seu exército, o que era proibido pelas leis romanas. Começava a segunda guerra civil. César, vitorioso, entrou em Roma, escolheu
um novo Senado e anistiou, ou seja, perdoou, todos os seus opositores. Uma vez tomadas essas medidas, perseguiu Pompeu, que fugiu para o Egito. Lá foi assassinado, e César elegeu Cleópatra rainha do Egito.
Depois de derrotar os últimos aliados de Pompeu, César foi proclamado o pai da pátria e pôde, então, realizar várias reformas.


A ditadura de César
César foi nomeado ditador perpétuo e imperator, que significava chefe absoluto das forças de mar e terra, além de pontífice máximo, ou seja, principal sacerdote romano.
A preocupação fundamental de César foi a reorganização da administração romana. Realizou várias reformas muito importantes.


  • Fez com que o Senado fosse internacionalizado, ou seja, seus 900 membros não seriam apenas cidadãos nascidos em Roma.

  • Decretou o fim da escravidão por dívidas, repartiu terras e fundou colônias.

  • Moralizou a administração, realizou grandes obras públicas e reformou o calendário.

O fim de César
A aristocracia dos senadores não suportava a idéia de que César se tornasse rei. Para impedir que isso ocorresse, em 44 a.C., César foi assassinado com 28 punhaladas, uma delas dada pelo filho adotivo, Bruto. Quando o viu no meio dos assassinos César lhe disse: “Até tu, Bruto?”.



O segundo triunvirato
Após o assassinato, Marco Antônio, Otávio e Lépido formaram o segundo triunvirato. Iniciaram-se perseguições. Quase todos os membros do Senado foram aniquilados. Finalmente, decidiram dividir o governo em três partes. Lépido renunciou ao seu quinhão. Só restaram Otávio e Marco Antônio: um dos dois estava “sobrando”.


A terceira Guerra Civil


O governo de Otávio pôs fim às perseguições. Enquanto isso, Marco Antônio se instalou em Alexandria e casou-se com a rainha Cleópatra. Ele prometera a Cleópatra que a transformaria em rainha de Roma. Otávio usou isso como pretexto para livrar-se de Marco Antônio, declarando guerra ao Egito. Em 31 a.C., a frota egípcia foi derrotada, e Cleópatra e Marco Antônio se suicidaram. A partir daquele momento, o Egito passou a ser uma província romana. Otávio era o único dono do poder em Roma. Ele inaugurou uma nova forma de governo, o império, que durou quinhentos anos



O império cristão
Os romanos sempre foram tolerantes com outras crenças e religiões. Apesar disso, alguns imperadores rejeitaram o cristianismo e o consideraram um “perigo público”. Para eles, o cristianismo não era apenas uma nova crença, mas um novo sistema de vida que se contrapunha ao romano. Cristo pregava o amor, a misericórdia e o perdão: o que importava era levar uma vida virtuosa.
Os cristãos rejeitavam os cultos pagãos e se recusavam a reverenciar o imperador como se fosse um deus.



As perseguições
O confronto entre os cristãos e as autoridades imperiais começou trinta anos após a morte de Jesus e se prolongou durante três séculos, com intervalos.
Em geral, a atitude do Estado romano diante do cristianismo era de indiferença. Alguns imperadores perseguiam os cristãos porque eles se recusavam a pagar impostos e a adorar os deuses oficiais do Estado.
A falta de moral e a situação calamitosa do império no século III inverteram essa situação. A partir da conversão do imperador Constantino, o cristianismo se tornou a religião oficial do império.



Constantino e o triunfo cristão
Ao vencer uma batalha contra um aspirante a imperador, Constantino
se converteu ao cristianismo e promulgou o Edito de Milão (ano 313), estabelecendo
a liberdade de culto em todo o império.
A partir desse momento, e dada a crise generalizada, o cristianismo ganhou
terreno. Ele prometia, a homens e mulheres, a salvação pessoal. Além disso,
as comunidades cristãs ofereciam serviços, tais como cuidado de crianças e
sustento dos desprotegidos. Começam a surgir os primeiros templos e escolas
públicas cristãs.
Nessa época, a igreja cristã adotou o cerimonial imperial e se submeteu
ao controle do Estado romano.



O desmoronamento do Império do Ocidente
Assim como o cristianismo conquistou o império por dentro, outros invasores quebraram o poder militar que mantinha as fronteiras. O avanço dos hunos, vindos das estepes asiáticas, provocou o deslocamento dos povos germânicos próximos das fronteiras romanas. Em 378, 200 mil visigodos invadiram o império e ocuparam a Trácia. Outros povos germânicos imitaram o exemplo dos visigodos e, em pouco tempo, a penetração de povos germânicos tornou-se violenta. Visigodos e vândalos saquearam Roma e o império.
Os germanos que invadiram o Império do Ocidente não viviam em cidades. As cidades se reduziram a fortificações: a decadência da vida urbana é uma das principais marcas do novo período histórico que se inicia. A economia tornou-se estritamente agrícola: a produção dos campos apenas dava para alimentar os trabalhadores rurais e sustentar os senhores das terras.



O Império do Oriente
A parte oriental do Império Romano sobreviveu durante mais mil anos. A partir do século VI, o Oriente começava uma vida própria, e a Europa Ocidental iniciava um longo período deconstrução.



A cultura romana e seu legado
Roma deixou para o mundo um legado construído ao longo de mil anos. Povo de organizadores, deixou-nos um sistema de direito. O respeito que os romanos tinham pela cultura dos submetidos lhes deu uma civilização internacional. Mas eles também foram responsáveis pela romanização de vários povos. Seus valores eram assimilados pelos demais povos europeus e continuaram regendo a vida das pessoas durante o período que ficou conhecido como Idade Média.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Os primeiros helenos: eólios, jônios, aqueus e dórios

Os helenos eram um povo ário que se dizia descendente de um mesmo antepassado comum. Apesar disso, eles estavam divididos em quatro grupos que se estabeleceram em regiões diferentes:
os eólios se fixaram na Etólia, no norte da Hélade;
os jônios se fixaram no centro, na península de Ática;
os aqueus se fixaram no Peloponeso;
os dórios se fixaram no norte da Grécia, na Macedônia e, mais tarde,
no Peloponeso.
Atraídos pela prosperidade dos cretenses, os helenos foram se infiltrando em todo o território até dominá-los completamente, conquistando o mar Egeu. Mas isso não significou o fim da civilização cretense. Os helenos preservaram a civilização que encontraram e assimilaram coisas que eles mesmos tinham criado, como a língua grega.
Os aqueus logo se impuseram aos demais grupos. Por volta de 1400 a.C., as cidades de Micenas e Tirinto tornaram-se os focos irradiadores da nova cultura cretomicênica, uma combinação da velha cultura dos cretenses com a cultura dos helenos.

A Guerra de Tróia
O rei de Micenas liderava os demais reis helenos nas campanhas de conquista.
Eles penetraram na Ásia Menor e lá estabeleceram alguns povoamentos. Mas tiveram de enfrentar um inimigo poderoso: a cidade de Tróia, um centro comercial popular, que se beneficiara da queda do poderio naval de Creta atacando toda a costa grega.
Por volta de 1100 a.C., Agamenon, rei de Micenas, querendo pôr fim à situação, liderou uma coalizão de helenos contra Tróia. A guerra, a primeira entre a Ásia e a Europa, durou dez anos. Os gregos penetraram na cidade escondidos dentro de um enorme cavalo de madeira com o qual presentearam os troianos. Daí vem a expressão presente de grego. No final, Tróia foi totalmente destruída.
Os reis de Micenas teriam continuado a expandir o seu território se não
tivesse acontecido algo inesperado.

A invasão dórica
Enquanto os aqueus lutavam contra os troianos, os dórios começaram a se infiltrar. Os dórios tinham uma coisa que os outros não tinham: armas de ferro.
Por volta de 900 a.C., começaram a avançar em direção ao Peloponeso.
As tribos helenas estavam divididas e debilitadas por causa da longa guerra contra Tróia e não conseguiram resistir. As que tentaram, como Micenas e Tirinto, foram arrasadas. Os aqueus foram reduzidos a escravos dos dórios.
Em Creta, a destruição foi tão grande que não ficou uma única lembrança de seu esplendor.

A cultura creto-micênica: uma sociedade de guerreiros comerciantes
Os aqueus eram governados por uma monarquia absoluta. Devemos supor que a maioria da população vivia sob a dependência dos guerreiros, pois as fortalezas de Micenas e Tirinto abrigavam uma população reduzida e privilegiada.
Os aqueus construíam estradas e portos para facilitar o comércio. Usavam bronze, jóias, pedras gravadas e cerâmica. As cidades aquéias eram fortificadas, e os temas de guerra estavam presentes na decoração dos palácios. As gigantescas construções eram chamadas de ciclópeas, pois lendas diziam que elas tinham sido construídas por ciclopes, super-homens que tinham um só olho, no meio da testa.

A Grécia heróica
Com a chegada dos dórios, começou uma etapa muito importante na vida dos gregos. Esse momento é chamado de heróico ou homérico. Foi nessa época que surgiram os mitos, as lendas, os deuses e os heróis helenos.
Com a invasão dos dórios, muitas famílias helenas fugiram e se refugiaram nas ilhas do mar Egeu e na Ásia Menor. Mais tarde, os dórios se estabeleceram no sul da Ásia Menor.
A partir desse momento, o mar Egeu ficou totalmente rodeado de colônias gregas. Além disso, entre os séculos VIII e VII a.C., as cidades gregas da Ásia Menor transformaram o Mediterrâneo num mar grego.
Ao norte, nas costas do mar Negro, os gregos fundaram várias cidades - entre elas, Bizâncio, que seria, no futuro, a capital do mundo romano oriental. Os gregos também fundaram colônias no Egito, no norte da África, no sul da Itália (a Magna Grécia) e nas costas da Espanha e da Gália, que é hoje a França.
As novas cidades eram autônomas, ou seja, independentes. Apesar disso, os colonizadores mantinham os mesmos costumes e ideais que eram cultivados na Grécia. Assim, a Grécia continental se transformou no centro de uma associação de cidades independentes espalhadas pelo Mediterrâneo.

A cultura e a religião
Para os gregos o ser humano era a obra mais importante da criação. Seus deuses eram pessoas perfeitas, belas e jovens, mas tinham todas as qualidades e os defeitos dos seres humanos.
Os deuses gregos formavam uma comunidade privilegiada que morava no monte Olimpo, um lugar sagrado. Eles eram presididos por Zeus, pai de todos os deuses, e sua mulher, Hera. Os deuses da Terra também moravam no Olimpo, como Posêidon, o deus dos mares, e Dioniso, o deus da alegria e do vinho.
Cada cidade grega tinha o seu deus predileto. Apesar disso, os gregos adoravam todos os outros deuses também. Cada casa tinha um fogo sagrado que ardia em memória dos antepassados.
Os deuses gregos comunicavam seus desejos aos homens por meio de presságios. Os oráculos, os templos onde os deuses gostavam de revelar suas mensagens, foram muito populares na Grécia.

As lendas
O gregos criaram lendas sem fundamento histórico, ou seja, que ninguém podia provar se realmente tinham acontecido.
Mesmo assim, essas lendas foram aproveitadas por poetas e artistas.
As lendas gregas diziam que o homem havia sido criado por Prometeu, que lhe deu o fogo que conseguira roubar do Olimpo. Quando Zeus soube disso, amarrou Prometeu com correntes num monte do Cáucaso. Lá, uma águia vinha todas as manhãs para lhe devorar as vísceras, que renasciam a cada dia.
Para castigar o Homem, Zeus fez com que ele casasse com Pandora, que lhe deu de presente uma caixa que continha todos os males: a maldade, a inveja e assim por diante.

Os heróis
Os gregos também contavam histórias sobre personagens lendários, os semideuses. Os mais famosos foram:
Hércules, o herói nacional grego por causa de sua força física e bondade;
Teseu, que conseguiu acabar com o poder dos cretenses quando matou o Minotauro;
Perseu, que matou a Medusa, um monstro cujos cabelos eram serpentes e que convertia os homens em pedra com o olhar;
Édipo, o anti-herói que assassinou o pai, Laio, rei de Tebas, e casou com a mãe, Jocasta. Uma vez revelado o crime, Édipo fugiu e foi engolido pela terra.

A literatura
Antes que os gregos conhecessem a escrita, trovadores e poetas percorriam as cidades cantando e contando suas lendas. A Ilíada e a Odisséia, os poemas escritos por Homero, são uma reunião de todas essas lendas e mitos que circularam de boca em boca durante séculos.
A Ilíada conta a história da guerra e da tomada de Tróia, cujos principais protagonistas foram os deuses e os reis da Grécia heróica.
A Odisséia conta as aventuras de Ulisses, rei de Ítaca, ao voltar da Guerra de Tróia. Penélope, sua mulher, esperava-o; acreditava que ele estava vivo, ao contrário do que diziam todos aqueles que tinham inveja de Ulisses.

O mundo grego: Grécia antiga, clássica e helenística

Durante aqueles séculos em que os gregos criaram todas as suas lendas, seus deuses e seus mitos, eles formaram as principais características do modo de vida que adotaram. Como já pudemos perceber, os gregos formaram cidades-estados. Ou seja, cada cidade se tornou um pequeno país.
Veremos agora como eram as cidades-estados gregas, como os gregos viviam, e que forma de governo eles adotaram.

A vida social
As casas dos gregos, em geral, eram pequenas. Eles gostavam mesmo era de se reunir nos arques e nas praças das cidades, onde conversavam e trocavam idéias.
A roupa que usavam parecia um pequeno lençol preso no ombro.
A vestimenta das mulheres era, muitas vezes, bordada.
Os estrangeiros tinham de pagar impostos e, em caso de guerra, deviam prestar alguns serviços à cidade na qual moravam.

A vida nas cidades
Os gregos moravam em cidades independentes que chamavam de pólis.
Os poemas homéricos descrevem os reis gregos como homens que aravam a terra, faziam trabalhos manuais. A agricultura era a principal riqueza. Por isso, a propriedade da terra era símbolo de prestígio.

As cidades-estados gregas
Vejamos, agora, como é que as cidades-estados se desenvolveram, e que tipo de governo elas adotaram. Veremos o exemplo das cidades que se tornaram as mais poderosas da Grécia: Esparta e Atenas.

Esparta
Esparta foi fundada pelos dórios. Como eram pouco numerosos, eles estabeleceram uma disciplina militar muito rígida para manter os privilégios que tinham conquistado. Esparta era uma verdadeira cidade-quartel. Tudo era submetido ao Estado, cuja principal função era fazer com que os cidadãos espartanos fossem bons soldados.
A terra, propriedade dos cidadãos, era cultivada por escravos que pertenciam ao Estado. O principal objetivo da vida dos espartanos era o engrandecimento do Estado. Ao nascer, uma criança que tivesse algum defeito físico era jogada de uma colina. Se fosse perfeita, ficava com a mãe até os 7 anos de idade.
Depois, permanecia sob o cuidado do Estado até chegar aos 60 anos.
Até os 18 anos, os meninos espartanos aprendiam a ler e a escrever. Eles tinham de fazer muitos exercícios físicos, além de sofrer muitos castigos, para se tornarem bons soldados. Dos 18 aos 30 anos, dedicavam-se exclusivamente ao exército. Depois entravam na Assembléia, onde participavam das decisões de governo. Só depois dos 60 anos é que podiam virar magistrados e ocupar cargos no governo.
As meninas eram educadas em casa, quase da mesma forma que os meninos.
Aprendiam a ler e a escrever e faziam muitos exercícios físicos para se tornarem mães de soldados perfeitos. A mulher espartana gozava de muito prestígio e de liberdade nas suas relações sociais, o que não acontecia nas demais cidades gregas.
O exército tinha um papel muito importante na vida dos espartanos. Foi por meio de seu exército que Esparta conseguiu se impor aos demais povos do Peloponeso.
Depois de dominar esses povos, os espartanos formaram a Liga do Peloponeso. Esparta tornou-se a cidade-estado mais forte da Grécia.


Atenas
Atenas foi fundada em homenagem à deusa da sabedoria. Os jônios construíram a Acrópole, que abrigava os edifícios públicos e o templo, numa colina. Na costa, eles construíram o porto do Pireu. Aos poucos, Atenas foi se tornando o principal centro dos jônios.
Os atenienses experimentaram várias formas de governo até chegar a uma forma que eles chamaram de democracia.
No início, os atenienses foram governados por um rei, cujo poder era limitado pelos eupátridas, os “bem nascidos”.
Nesse momento, os atenienses foram governados por uma monarquia baseada numa aristrocracia, ou seja, pelos eupátridas, que se revezavam no governo uma vez por ano.
Revoltas dos habitantes que não podiam participar do governo forçaram os governantes a escrever as leis, que só eram conhecidas pelos eupátridas. Drácon, um eupátrida, fez isso em 620 a.C. Ele redigiu leis que eram muito rígidas e que puniam todos os crimes com a morte. Os habitantes de Atenas não se conformaram: fizeram outra revolta e chamaram Sólon, outro eupátrida, para reformar as leis.
Sólon libertou todos aqueles que eram prisioneiros por dívidas, repartiu as terras que antes pertenciam apenas aos nobres, suavizou as leis de Drácon e incentivou a educação para todos os cidadãos.
Para suprimir os privilégios dos nobres, ele dividiu a sociedade em quatro classes, de acordo com as riquezas que as pessoas tinham. Os que possuíam mais dinheiro, e pagavam mais impostos, tinham mais direitos políticos.
O sistema não agradou à maioria das pessoas, e Sólon perdeu prestígio.
Em 560 a.C., Pisístrato conseguiu tomar o poder. Começou assim o período
de governo conhecido como tirania, assim chamado porque era um governo que
não tinha origem legal.
Pisístrato governou durante cinqüenta anos, respeitando as leis de Sólon e adotando várias medidas para proteger os atenienses pobres. Ele melhorou a agricultura, incentivou a colonização e protegeu as ciências e as artes. Atenas se tornou uma cidade muito bela.
Em 508 a.C., o governo passou para as mãos de Clístenes. Ele dividiu a cidade em cem distritos que foram chamados de demos, habitados por todo tipo de gente - ricos e pobres, nobres e plebeus. Todos os atenienses livres pertenciam a um demos e tinham o direito de escolher os chefes. Os atenienses chamaram esse sistema de governo de democracia.
A reforma de Clístenes criou os princípios da República. Esses princípios eram os seguintes:
as leis nascem da vontade dos cidadãos;
todos os cidadãos são iguais perante as leis;
todos os cargos públicos são acessíveis aos cidadãos que respeitam as leis.
Os atenienses contavam com várias instituições, por meio das quais a República se sustentava. Por exemplo:
O Senado estudava as leis que seriam propostas aos cidadãos e cuidava das relações com as outras regiões. Os membros do Senado eram escolhidos pelos demos;
A Eclesia, assembléia popular, era a instituição mais importante, da qual todos os cidadãos participavam. Ela se reunia uma vez por semana em praça pública. Lá, os cidadãos examinavam e votavam as leis propostas pelo Senado, escolhiam os magistrados e discutiam as questões públicas, ou seja, as que diziam respeito a todos os habitantes da cidade. As decisões da Eclesia
não podiam ser contestadas por ninguém.
Os cidadãos eram aqueles que nasciam na cidade e cujos pais eram atenienses. As mulheres, as crianças, os estrangeiros e os escravos, que formavam a maioria da população de Atenas, não participavam da democracia ateniense.
Os estrangeiros tinham de pagar impostos e, em caso de guerra, eram obrigados servir no exército.
Em certos momentos, os escravos formaram mais da metade da população da cidade. Eles cultivavam a terra dos cidadãos e trabalhavam nas oficinas dos artesãos.
Ao contrário do que ocorria em Esparta, as escolas atenienses eram particulares: as escolas públicas não existiam. Aos 7 anos, os meninos cujos pais podiam pagar uma escola começavam a freqüentar o ginásio, acompanhados de um escravo chamado pedagogo. Ao completar os 18 anos, registravam-se no demos e prestavam o serviço militar obrigatório. Aos 20 anos, tornavam-se cidadãos.
As mulheres ficavam em casa, tecendo, e não recebiam nenhum tipo de educação. Eram totalmente excluídas da vida política da cidade e não participavam das reuniões sociais e dos entretenimentos públicos, reservados exclusivamente para os homens.
Por volta do século V a.C., tanto Atenas como Esparta tinham se tornado muito poderosas. Era inevitável que seus interesses se chocassem. Antes disso, porém, um acontecimento muito importante fez com que toda a Grécia se unisse: foi a ameaça dos persas, que tentavam expandir seu império para além da Ásia

A Grécia Clássica

A guerra entre gregos e persas foi, na realidade, o primeiro enfrentamento de dois modos de vida e duas culturas totalmente diferentes. De um lado, estavam as cidades gregas e suas formas democráticas. Do outro, o império persa, com seus imperadores absolutistas.
Depois das guerras, a cultura grega, em especial a de Atenas, viveu seu melhor momento. É por isso que os historiadores chamam esse período da história da Grécia de clássico.


As guerras entre gregos e persas
A guerra começou quando a cidade de Mileto quis se rebelar contra os impostos cobrados pelos persas. No ano 500 a.C., Mileto, com a ajuda de Atenas, improvisou um exército e atacou a cidade de Sardes, o centro de uma província persa.
Mas o poderoso exército persa logo os derrotou. Depois desse episódio, todas as colônias gregas da Ásia Menor foram dominadas e severamente castigadas pelos persas.
Dario, o imperador da Pérsia, exigiu a rendição das cidades gregas.
Quase todas as cidades se renderam, menos Atenas e Esparta. Foi assim que começou a primeira guerra médica, assim chamada porque os gregos achavam que os persas eram os medos, um dos povos ários que vimos antes.


A primeira guerra médica (490 a.C.)
Os atenienses, que esperavam reforços de Esparta, enfrentaram os persas sozinhos. Apesar da desvantagem, pois não tinham tantos soldados assim, conseguiram vencê-los. Os persas se retiraram. Logo depois, Atenas iniciou a construção de uma frota de 400 navios e se transformou na potência marítima do Mediterrâneo.

A segunda guerra médica (479 a.C.)
Quando Dario, rei dos persas, morreu, em 485 a.C., foi sucedido pelo filho Xerxes, que preparou um exército imenso e uma frota de mais de 4 mil navios.
Atenas e Esparta se uniram, mais uma vez, para enfrentar o inimigo comum. Eles decidiram esperar os persas no desfiladeiro das Termópilas.
Dessa vez, a sorte jogou contra os gregos. Por causa dos Jogos Olímpicos, o exército espartano estava desfalcado e enfraquecido. Os espartanos, liderados pelo rei Leônidas, foram derrotados nas Termópilas.
Os persas chegaram a Atenas, incendiando e destruindo boa parte da cidade.
Apesar disso, os atenienses ainda tinham sua frota de navios e conseguiram derrotar os persas no estreito de Salamina.
Animados pela vitória em Salamina, os espartanos conseguiram derrotar os persas na batalha de Platéia, no mesmo ano de 479 a.C.
Depois de várias vitórias, as cidades gregas decidiram formar uma confederação para derrotar os persas definitivamente. Eles escolheram o santuário de Apolo, na ilha de Delos, como sede.
Depois disso, as cidades gregas transferiram a sede para Atenas. Quando as guerras médicas terminaram, depois de os gregos reconquistarem as ilhas do mar Egeu, Atenas tinha, de fato, se convertido no centro de um império.


A vez de Atenas: o governo de Péricles
Nesse momento, surgiu em Atenas um personagem: Péricles, que governou durante mais de trinta anos. Ele foi o responsável pela reconstrução da cidade.
Rodeado de sábios e artistas e auxiliado pela mulher, Aspásia, sua época ficou conhecida como “o século de Péricles”.


O imperialismo ateniense
Os cidadãos atenienses gostavam muito da democracia que criaram. Apesar disso, não usavam esses princípios quando se relacionavam com as outras cidades gregas.
Péricles criou colônias atenienses em lugares estratégicos da Grécia. Mandava os cidadãos mais pobres de Atenas para as colônias, a fim de manter o predomínio de Atenas sobre as demais cidades. A moeda de Atenas se impôs em todo o Mediterrâneo oriental.
Com o passar do tempo, as cidades confederadas começaram a achar que o peso dos impostos que Atenas lhes cobrava estava se tornando insuportável.
Em 447 a.C., a cidade de Tebas, apoiada por Esparta, se desligou da Liga, proclamou sua independência e derrotou as tropas que tinham sido enviadas por Atenas para sufocar a rebelião.


A guerra civil: a decadência do mundo grego
A luta entre os gregos durou trinta anos e culminou com a decadência das cidades gregas. Atenas perdeu seu império. Esparta controlou a situação durante um breve período, até que foi derrotada por Tebas.

A Guerra do Peloponeso (431 a.C.-404 a.C.)
Como já vimos, bastou um pequeno pretexto para que a luta entre Atenas e Esparta começasse.
Sitiada por mar e por terra, debilitada pela fome e pelas lutas internas, Atenas se rendeu em 404 a.C. Foi obrigada a entrar na Liga do Peloponeso e a reconhecer o predomínio de Esparta. O poder militar ateniense tinha acabado para sempre.

O predomínio de Esparta
Esparta foi o centro do mundo grego durante algum tempo. Para manter essa posição, porém,
Esparta teve de usar a força militar, criando uma tirania muito pior que a de Atenas. As cidades
tinham de pagar impostos e manter uma guarnição de soldados espartanos para garantir a ordem.
A liberdade das cidades não existia. O predomínio de Tebas A tirania de Esparta foi se tornando insuportável. Depois de algum tempo, Atenas, Corinto e Tebas se uniram contra Esparta.
Os tebanos enfrentaram e derrotaram o exército espartano nas batalhas de Leuctra, em 376 a.C., e Mantinea, em 362 a.C. Tebas passou a ser a cidade mais importante da Grécia. Ela formou uma nova confederação da qual participaram todas as cidades gregas, agora debilitadas pelos longos anos de guerra civil.
Não demorou muito para que elas caíssem nas mãos de novos donos: os macedônios.

O século de ouro da cultura grega



As artes

Grande parte daquilo que os gregos criaram não era original. Eles herdaram muitos elementos das culturas dos cretenses e do Oriente Médio.
Apesar disso, os gregos conseguiram expressar na arte uma especial preocupação com o ser humano acima de todas as outras criações da natureza. Comparada com as criações das civilizações do Oriente Médio, a arte grega era relativamente simples. Essa simplicidade foi a base da chamada arte clássica.

As letras

O mundo deve aos gregos a criação de quase todos os gêneros literários, ou seja, de diferentes formas de expressão por meio da escrita. Além dos poemas homéricos, o século de ouro assistiu ao surgimento da poesia lírica.
O teatro surgiu nas festas que se realizavam todos os anos para homenagear Dioniso, o deus do vinho. Nessas festas, os gregos organizavam cortejos nos quais as pessoas apareciam fantasiadas com peles de cabra chamadas de tragedis. Elas davam voltas ao redor do templo e dialogavam com o público. Foi assim que nasceu a tragédia grega.
A comédia apresentava situações engraçadas. Contribuiu para a educação popular, pois satirizava e ridicularizava os defeitos da vida pública. Os gregos foram, também, o primeiro povo a se preocupar com a História. Eles deram ao mundo, por assim dizer, o primeiro historiador. Heródoto foi chamado de “pai da História”. Graças a ele, temos relatos de como era a vida grega durante o século V a.C.

As ciências

Os gregos se dedicaram ao estudo das causas da saúde e das doenças. Eles desenvolveram a medicina. Hipócrates foi considerado o “pai da medicina”.
Podemos dizer que a filosofia nasceu na Grécia. Foi lá que surgiram os pensadores que se preocupavam em saber a origem e o destino da existência humana. Os maiores filósofos - os “amigos do conhecimento” - gregos foram Sócrates, um ateniense que afirmava que a fonte da sabedoria está no próprio homem, Platão, que foi discípulo de Sócrates, e Aristóteles, criador da lógica, um macedônio que foi professor de Alexandre Magno.

A Grécia helenística

Depois das guerras civis, as cidades gregas entraram em um período de decadência. O luxo excessivo e a desunião entre as cidades agravou a situação.
Nesse momento, apareceu um homem cujo ideal transformou a Grécia clássica: Filipe da Macedônia. Esse homem unificou as cidades gregas e atacou o império persa. Seu filho, Alexandre Magno, realizou a conquista da Pérsia e difundiu a cultura grega no Oriente.

A Macedônia e Filipe II

Em 360 a.C., Filipe II, um jovem de 23 anos, subiu ao trono da Macedônia. Oito anos antes disso, tinha sido mantido refém em Tebas, onde recebeu uma educação grega. Lá, Filipe percebeu a fragilidade das cidades gregas e traçou um plano para transformar a Macedônia no principal Estado grego.
Ele chamou muitos sábios e professores gregos para difundir a cultura grega e, assim, “helenizar” os macedônios. Ao mesmo tempo, criou um poderoso exército, nos moldes do exército tebano.
Filipe reuniu representantes de todas as cidades gregas, menos Esparta, no Congresso Geral de Corinto. Nesse congresso, as cidades gregas decidiram formar uma nova liga, chefiada por Filipe, para atacar os persas.
Filipe tinha conseguido o que nenhum outro grego jamais conseguira. Mas, às vésperas da invasão da Pérsia, ele foi assassinado.
Seu projeto, entretanto, seria realizado por seu filho e sucessor, Alexandre.

Alexandre Magno

Alexandre Magno foi um personagem histórico que deu origem a muitas lendas e mitos. Ele foi chamado de “o grande” pelas incríveis façanhas que realizou. Alexandre foi aluno de Aristóteles, grande filósofo, e adquiriu uma vasta cultura. Além disso, era um excelente orador e tinha verdadeira paixão pelos esportes. Os homens e as mulheres da Antiguidade o consideravam um semideus.
Na primavera de 334 a.C., Alexandre Magno desembarcou perto de Tróia com um exército de 35 mil homens. Ele teria de enfrentar o exército persa, que contava com um milhão de soldados. Alexandre conquistou a Ásia Menor e libertou as cidades gregas que ficavam no litoral.
Depois desse triunfo, Alexandre derrotou os persas e capturou a família do imperador. Em pouco tempo, toda a Palestina havia se transformado numa província grega.
Seu próximo passo foi invadir o Egito, onde foi consagrado faraó. Alexandre fundou a cidade de Alexandria na desembocadura do rio Nilo, em homenagem a suas vitórias. Em 331 a.C. , toda a Mesopotâmia se rendeu perante o exército de Alexandre.
As conquistas mudaram o caráter de Alexandre. Ele foi se tornando muito vaidoso, cometendo injustiças e até crimes contra seus amigos. Mesmo assim, ainda conseguiu conquistar a Índia.
Após uma festa, Alexandre caiu vítima de uma febre violenta. Ele morreu doze dias depois, em 323 a.C., aos 33 anos. Quando Alexandre morreu, os generais que o haviam acompanhado em suas conquistas iniciaram uma luta feroz para repartir o império, que acabou sendo dividido em três grandes partes: o Egito, a Síria e a Macedônia.
As cidades gregas viveram uma fase decadente, de lutas e rivalidades, até
que foram conquistadas pelos romanos.

A civilização helenística

A maior obra de Alexandre Magno foi a difusão da cultura grega em todos os lugares que conquistou. Atrás das tropas, chegavam os sábios, os artistas e os pesquisadores gregos. Aos poucos, os povos conquistados foram adotando os costumes gregos.
A civilização helenística foi, portanto, a difusão da cultura grega no Oriente e a assimiliação de cultos e filosofias orientais no Mediterrâneo. Ao entrar em contato com as culturas do Oriente, a arte grega deixou de ser grega para ser universal.
Alexandria foi a capital do novo império e o centro do saber durante esse período.

sábado, 7 de junho de 2008

segunda-feira, 3 de março de 2008

Antiguidade Oriental

Como vimos, depois de vários milênios, os seres humanos desenvolveram a agricultura e o pastoreio. Graças a isso, a população pôde crescer e substituir o nomadismo pela vida sedentária. Aos poucos, as relações sociais se tornaram mais complexas. Como resultado, surgiram as primeiras cidades, o comércio, a religião organizada, a escrita e o Estado.
As civilizações descobriram suas potencialidades e teve início uma era que deixou suas marcas no tempo em obras como as pirâmides do Egito, os palácios da Mesopotâmia, os templos indianos e a Muralha da China. Todo esse trabalho foi fruto da cultura e da arte acumuladas por esses povos, que legaram à nossa civilização uma herança imensa.

O Antigo Egito
As primeiras civilizações tiveram origem no Oriente Próximo, há mais de 5 mil anos. Nessa região, alguns povos, já sedentarizados, desenvolveram a escrita, criaram cidades, formas complexas de exploração econômica, de trabalho e de sociedade, governos com instituições bem definidas e organizadas, leis que disciplinavam as relações sociais e os interesses das comunidades, bem como produziram importantes obras artísticas.
Essas primeiras sociedades surgiram das grandes migrações de grupos humanos que peregrinaram à procura de solos férteis e mananciais de água. Ao alcançarem um grande curso d’água, esses grupos encontravam também condições favoráveis à agricultura. Inicia-se a sedentarização humana, origem das primeiras civilizações conhecidas como civilizações hidráulicas. No Oriente Médio, a área onde se desenvolveram as civilizações hidráulicas ficou conhecida como Crescente Fértil.
As cheias periódicas do rio Nilo transformou o Egito numa espécie de oásis em meio ao deserto do nordeste africano. Elas são provocadas por chuvas abundantes que caem na nascente do rio, no interior do continente. Com as cheias, as águas inundam uma grande extensão das margens e formam uma espécie de limo, o húmus, que torna as terras muito férteis.
Desde o período neolítico, os grupos humanos que viviam nessa região perceberam que poderiam tirar proveito disso. Aprenderam que, ao serem plantados logo após o recuo das águas, os vegetais cresciam rapidamente e podiam ser colhidos antes do início da nova enchente.
Ao longo de muitas gerações, os egípcios foram aprimorando um amplo sistema de irrigação. Construindo diques e canais, aprenderam a controlar e a aproveitar ao máximo as inundações para o desenvolvimento da agricultura.

Transformações sociais e políticas
Inicialmente, os grupos que se estabeleceram próximo ao Nilo formaram aldeias chamadas nomos, no interior dos quais famílias ou clãs cultuavam um antepassado comum e um deus local, este representado em geral pela figura de um animal. O crescimento populacional dos nomos levou à luta pela posse das áreas cultiváveis. Concretizou-se, então, a diferenciação social entre os que se apossaram das terras – os proprietários – e os que tinham apenas sua força de trabalho – os camponeses. Os proprietários das terras esforçavam-se para mantê-las por meio da força e da proteção dos deuses e dos sacerdotes. Dessa forma, organizou-se a sociedade com a escolha de um chefe (nomarca) que representava os proprietários das terras ribeirinhas e que procurava conservar essa estrutura de poder.
A fim de obter melhor aproveitamento das cheias do grande rio, tais comunidades de uniam para efetuar a construção de diques e de canais de irrigação.
Com o tempo, os agrupamentos acabaram originando dois reinos distintos, correspondentes ao Alto e ao Baixo Egito.
O Alto Egito ficava ao sul, e era formado pelo extenso vale ao longo das margens do Nilo. O Baixo Egito, ao norte, organizava-se em torno do delta formado pelo rio ao desaguar no mar Mediterrâneo.
Por volta de 3200 a.C., Menés, soberano do Alto Egito, impôs a unificação dos dois reinos,tomando para si o título de faraó, iniciando a história dinástica do Egito. Os nomarcas passaram a representar o poder central nas suas comunidades, formando a nobreza local.
A partir desse momento, pode-se dividir a história do Egito antigo em quatro longos períodos, nos quais os faraós conseguiram manter o poder.

Antigo Império (cerca de 3200 – 2000 a.C.). Durante a maior parte desse período, o centro administrativo do Egito era a cidade de Mênfis, localizada no delta do Nilo. Dentre os faraós mais conhecidos dessa fase encontram-se Quéops, Quéfren e Miquerinos. Foram eles que mandaram construir, para servir-lhes de túmulos, as grandes pirâmides da planície de Gizé (cerca de 2600 a.C.). A partir de 2350 a.C., lutas entre os líderes dos nomos e desorganização do poder central geraram crises que acabaram por enfraquecer a autoridade do faraó.
Médio Império (2000 – 1580 a.C.). O poder do faraó foi restaurado por governantes do Alto Egito. Dessa vez, o centro administrativo se estabeleceu em Tebas. Seguiu-se um longo período de relativa prosperidade que durou cerca de quatrocentos anos, até a invasão dos hicsos. Utilizando armas e recursos de guerra desconhecidos dos egípcios, esse povo, proveniente da Ásia ocidental, dominou e subjugou o Egito durante quase duzentos anos. Nesse mesmo período, os hebreus também se instalaram na terra dos faraós.
Novo Império (1580-1085 a.C.). Período iniciado com a expulsão dos hicsos por soberanos do Alto Egito, que restabeleceram a autonomia na região e consolidaram a autoridade do faraó sobre todo território. Destacam-se os governos dos faraós Tutmés III e Ramsés II, que converteram o Egito, durante muito tempo, na região mais poderosa do Crescente Fértil. O comércio se expandiu, tanto por terra como por mar. Nessa época, foram construídos os templos de Luxor e Carnac.
A partir do século XII a.C., teve início um período de enfraquecimento do poder dos faraós, ocasionado por disputas internas. Desestabilizado o poder central, o Egito sofreu sucessivas invasões, culminando com a conquista do Império pelos assírios, em 671 a.C.
Renascimento Saíta (663-525 a.C.). Príncipes de Saís, cidade localizada no delta do Nilo, lideraram os egípcios na expulsão dos assírios e possibilitaram, mais uma vez, o fortalecimento da sociedade egípcia. A estabilidade durou pouco, entretanto.
Em 525 a.C., os persas dominaram o Egito que, a partir de então, não conseguiu mais recuperar sua autonomia. Depois do domínio persa, o território seria sucessivamente conquistado por gregos e romanos.
A conquista do país por Alexandre Magno, em 332 a.C., e pelos romanos, no ano 30 a.C., introduziu o Egito na esfera do mundo clássico, embora persistissem suas antigas tradições artísticas.

Os grupos sociais
A sociedade egípcia era dividida em camadas sociais entre as quais havia profundas diferenças. Todo poder estava concentrado nas mãos do faraó, que era considerado um deus. Chamamos essa forma de governo teocracia. O faraó era o grande sacerdote, o chefe dos exército, o juíz.
Os sacerdotes constituíam uma categoria poderosa e influente, em razão da importância da religião para os egípcios. Como guardiões dos templos, eles recebiam e administravam as oferendas feitas aos deuses pela população.
Os parentes dos faraós e os altos funcionários formavam uma espécie de nobreza. Os últimos administravam, em nome do faraó, as quarenta e duas províncias (ou nomos) unificadas do Egito.
Os escribas (os que sabiam escrever) coletavam os impostos dos camponeses, destacando-se na administração pública. Eram controladores dos rebanhos, das áreas cultivadas, das quantidades de cereais produzidos e armazenados.
A base da estrutura social era formada por camponeses e um grupo reduzido de escravos, em sua maioria prisioneiros de guerra. Seu trabalho era pesado e os fiscais castigavam os que não produziam a contento. Arar, semear, colher, abrir canais, levantar monumentos eram algumas das tarefas que os camponeses tinham de executar.
Uma parte população era constituída por artesãos, que trabalhavam, geralmente, nos ofícios gerados pela construção de templos e túmulos.

A escrita egípcia
A escrita egípcia também foi algo importante para este povo, pois permitiu a divulgação de idéias, comunicação e controle de impostos. Existiam duas formas de escrita: a demótica (mais simplificada) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e símbolos). As paredes internas das pirâmides eram repletas de textos que falavam sobre a vida do faraó, rezas e mensagens para espantar possíveis saqueadores. Uma espécie de papel chamada papiro que era produzida a partir de uma planta de mesmo nome também era utilizado para escrever.
Durante a campanha de Napoleão no Egito, foi trazida para França pelo arqueologista francês Jean François Champollion, no ano de 1799, uma pedra da cidade de Roseta, contendo inscrição em três tipos de alfabeto: hieróglifo, grego e demótico. Em 1822, Champolion, fez comparação do texto grego com o mesmo assunto em hieróglifos, conseguiu decifrar o alfabeto egípcio, dando uma contribuição para os estudos da civilização egípcia.

Atividades econômicas
Todas as terras pertenciam ao faraó. No entanto, a nobreza detinha de fato sua posse. Grande parte das atividades produtivas era organizada e administrada por ele, desde o planejamento e a construção de canais e diques para a irrigação das terras até o armazenamento e a distribuição da produção.
O comércio de cereais e produtos artesanais era feito entre o vale e o delta do Nilo por meio de embarcações. Através dessa atividade comercial, o Egito exportava produtos agrícolas e importava matérias-primas para o artesanato (madeira, ouro, cobre e marfim) e especiarias. Durante o Médio Império, o Egito rompeu seu isolamento com o mundo conhecido e tornou-se o grande celeiro da região mediterrânea, abastecendo diversos mercados.

Uma religião de muitos deuses
Os egípcios foram um povo de profundas crenças religiosas. Isto teve importância na formação de sua civilização e organização social. Adotaram o politeísmo (crença em vários deuses). Desde os tempos mais antigos, os egípcios adoravam numerosos e estranhos deuses. Os primeiros foram animais e cada pessoa tinha o seu animal-deus que a protegia. Adoravam gatos, bois, serpentes, crocodilos, touros, chacais, gazelas, escaravelhos, etc.
No século XIV a.C., o faraó Amenófis IV impôs o monoteísmo para diminuir o poder clerical. O culto ao deus Áton é considerado a primeira manifestação monoteísta que se conhece. O faraó Amenófis IV, casado com Nerfetite, expulsou os sacerdotes de seu palácio, mandou fechar os templos, e passou a chamar-se Aquenáton (filho de Áton). Substituiu o politeísmo pelo monoteísmo de Áton, o deus da bondade, criador do mundo, representado pelo disco solar.
Com a morte de Aquenáton, seu filho e herdeiro, Tutancâmon, ainda muito jovem, restaurou a religião tradicional, eo clero voltou ao poder, reassumindo o controle do Estado. Grandes templos foram construídos em Luixor e Karnak.


A vida após a morte
Como acreditavam na vida após a morte, mumificavam os cadáveres dos faraós colocando-os em pirâmides, com o objetivo de preservar o corpo para a vida seguinte. Esta seria definida, segundo crenças egípcias, pelo deus Osíris em seu tribunal de julgamento.
A preocupação com os mortos levou os egípcios a construir túmulos duradouros. Dentre eles os mais grandiosos são as pirâmides, que guardavam, num compartimento secreto, a múmia dos faraós. Nas mastabas (construções simples, de formato trapezóide) e nos hipogeus (túmulos subterrâneos) ficavam sepultados nobres e sacerdotes.



A arte e o conhecimento científico
A produção artística era predominantemente de inspiração religiosa. Foi para os deuses e para os mortos que os egípcios construíram seus maiores monumentos.
Expressada por meio da pintura, da escultura e da arquitetura, a grandiosidade da arte egípcia ainda hoje nos impressiona. A pirâmide de Quéops, por exemplo, com 146 metros de altura, constitui o mais colossal monumento do mundo antigo. Graças ao trabalho minucioso dos artesãos egípcios, os templos, as colunas e os túmulos tinham as paredes inteiramente decoradas com hieróglifos e desenhos pintados ou esculpidos.
Os egípcios desenvolveram significadamente várias áreas do conhecimento.
As áreas em que mais se destacaram foram a astronomia e a geometria. A necessidade de prever as enchentes do Nilo e de executar obras para o aproveitamento das águas do rio levou-os à observação dos astros e à construção de fórmulas para medir superfícies. Utilizavam a soma, subtração e divisão.
Além disso, criaram um calendário solar, no qual o ano, de 365 dias, era dividido por dozes meses de trinta dias cada, ao qual acrescentavam cinco dias festivos.
Os egípcios também tinham profundos conhecimentos de medicina. Além da habilidade no processo de embalsamamento, que propiciou um grande conhecimento de anatomia, os médicos faziam intervenções cirúrgicas até mesmo em crânios, próteses dentárias, conheciam os sintomas e os tratamentos para infecções de olhos e de ouvidos, bem como a circulação sangüínea.

A Civilização Mesopotâmica
Assim como o vale do Nilo, a Mesopotâmia foi um dos lugares onde se desenvolveram algumas das mais antigas sociedades humanas.
Muitos povos se sucederam na ocupação da Mesopotâmia, como sumérios, babilônicos, caldeus e assírios. Embora esses povos apresentassem muitas diferenças entre si, o intenso intercâmbio mantido entre eles tornou possível a formação de culturas semelhantes, com diversos aspectos em comum.
O nome Mesopotâmia foi dado pelos gregos e significa “terra entre rios” (meso = no meio; potamos = rio). Compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, a Mesopotâmia estava localizada entre áreas montanhosas e desérticas, na extremidade oriental do Crescente Fértil. Dividia-se em duas áreas com características naturais distintas: ao sul, as férteis planícies da Suméria (depois chamada Caldéia); ao norte, o árido e montanhoso solo da Assíria.
O Tigre e o Eufrates nascem nas montanhas da Armênia e correm um ao lado do outro em direção ao golfo Pérsico. Na primavera, o degelo da neve que cobre as montanhas da Armênia provoca inundações, tornando as terras da baixa planície da Suméria extremamente férteis, fenômeno semelhante àquele que ocorre com o Nilo.
Como aconteceu no Egito, foi preciso um enorme esforço dos habitantes da região para controlar as águas das enchentes e poder cultivar as terras em torno dos rios, que de outra forma seriam pântanos férteis, mas inabitáveis. Assim, graças ao trabalho continuado de muitas gerações, foi possível cultivar vegetais e obter colheitas abundantes.

Um mosaico de povos
Por muito tempo, a Mesopotâmia funcionou como uma espécie de corredor por onde passavam povos nômades vindos de diferentes regiões. Atraídos pelas terras férteis, alguns deles ali se estabeleceram. Do convívio entre essas culturas nasceram as sociedades Mesopotâmicas.
Os Sumérios
Os Sumérios foram provavelmente os primeiros a habitar o sul da Mesopotâmia, por volta de 8.500 a.C. Desde o quarto milênio a.C., realizavam obras de irrigação e utilizavam técnicas de metalurgia do bronze, bem como uma forma de escrita chamada cuneiforme.
A construção de grandes obras exigia o esforço conjunto de toda população e uma instituição política capaz de coordenar os trabalhos. Essa instituição seria o Estado.
Como resultado dos esforços coletivos, as comunidades aldeãs sumerianas transformaram-se em comunidades urbanas, das quais se destacaram Ur, Uruk e Lagash. Essas cidades viviam em constantes disputas pelo poder, o que as enfraquecia, favorecendo a invasão de outros povos. Alguns desses povos se estabeleceram na região e chegaram, inclusive, a dominar os sumérios, absorvendo sua cultura e unificando o governo de suas cidades.
Cada cidade possuía poder político independente, o que a caracterizava como um verdadeiro Estado, daí sua qualificação de cidade-Estado. Embora tivessem governos próprios, essas cidades-Estados mantinham fortes laços culturais e econômicos entre si.


Religião e poder
Os sumérios acreditavam em vários deuses, que possuíam forma humana. Cada cidade cultuava uma divindade especial.
O poder máximo era exercido por um rei – o patesí -, que assumia as funções de principal sacerdote do deus local, governador, chefe militar e supervisor das obras hidráulicas. Como representantes dos deuses, o rei era o dono da maior parte das terras e dos impostos arrecadados e, em caso de guerra, ficava com a quase totalidade das riquezas tomadas dos vencidos.
Os sumérios foram o primeiro povo da região a mostrar sinais de civilização: construção de cidades, portanto vida urbana, criação de uma escrita, acentuada divisão social do trabalho, organização de uma forma embrionária de Estado, divisão da sociedade em classes, religião institucionalizada, com sacerdotes profissionais. Sua maneira de se organizar socialmente acabou por influenciar muitos povos que os sucederam na região.

A primeira tentativa de unificação
A sobrevivência na Baixa Mesopotâmia dependia quase inteiramente dos rios. Daí a constância das lutas entre as cidades-estados pelas terras ao longo das margens, fertilizadas pelas cheias.
Essa situação permaneceu até cerca de 2350 a.C., quando Sargão I iniciou a unificação da região. Sargão I estendeu seus por toda a Mesopotâmia. Estabeleceu a capital de seu império em Akkad, daí o nome de civilização acadiana. A tática de não destruir a cultura dos povos conquistados permitiu que elementos importantes da cultura sumeriana fossem conservados pela civilização acadiana.
Após a morte de Sargao, os povos dominados começaram a se revoltar, e o império foi perdendo seus domínios.
O Antigo Império da Babilônia
A cidade da Babilônia formou-se depois do desmembramento do antigo Império Acádio. Em 1728 a.C., Hamurábi, o mais importante rei babilônico, submeteu grande parte da Mesopotâmia.
Em seu governo foi elaborado um dos primeiros códigos de leis da Antiguidade, conhecido como Código de Hamurábi. Nele estavam incluídos, além das leis, tradições e valores da sociedade mesopotâmica. Esse código estabelecia a pena de talião: olho por olho, dente por dente.
Após e morte de Hamurábi, a Mesopotâmia foi abalada por sucessivas invasões, até a chegada dos assírios.

O Império Assírio
De origem semita, os assírios viviam do pastoreio e habitavam as margens do rio Tigre. A partir do final do segundo milênio a.C., passaram a se organizar como sociedade altamente militar e expansionista. Realizaram diversas conquistas e expandiram seu domínio para além da própria Mesopotâmia, chegando ao Egito. O centro administrativo do império assírio era Nínive.
Os responsáveis por essa expansão foram Sargão II, Senaquerib e Assurbanipal.
O exército assírio era um dos mais notáveis da Antigüidade, fato que proporcionou aos assírios o poder de conquistar diversos territórios. A cada território o exército aumentava ainda mais por causa do alistamento obrigatório que esses implementaram. Alguns historiadores acreditam que os assírios pudessem colocar ate 100 mil soldados em campo. Os assírios ficaram famosos por seus métodos violentos de fazer guerra.
Com a morte de Assurbanipal o Império entrou em decadencia e inúmeras revoltas dos povos dominados levaram os assírios à derrota em 612 a.C. Nesse ano, Nínive foi tomada por uma coalizão de medos e caldeus.
O Novo Império da Babilônia
Os caldeus, povo de origem semita que se estabeleceu na Mesopotâmia no início do primeiro milênio a.C., foram os principais responsáveis pela derrota dos assírios e pela organização do novo império babilônico, maior e mais poderoso que o primeiro. Nabucodonosor foi o soberano mais conhecido dos caldeus, que governou por quase sessenta anos.
Durante o reinado de Nabucodonosor deu-se o Cativeiro da Babilônia, famoso episódio de escravidão dos hebreus. Após sua morte, os persas dominaram o novo império babilônico.
Estado e Sociedade
Embora fossem considerados representantes dos deuses e não divindades, como os faraós do Egito, os soberanos da Mesopotâmia também exerciam forte domínio sobre a sociedade.
A agricultura era a principal atividade econômica da Mesopotâmia. Seu desenvolvimento, assim como no Egito, dependia do controle das águas dos rios.
As terras pertenciam àqueles que representavam os deuses, mas seu cultivo era comunitário. Parte das colheitas devia obrigatoriamente ser entregue aos chefes ou funcionários como forma de pagamento pela exploração do solo.
Como no Egito, a sociedade encontrava-se rigidamente dividida em camadas sociais. Governantes, sacerdotes, guerreiros e comerciantes estavam entre os grupos mais privilegiados. Camponeses livres, artesãos e escravos ficavam entre os mais oprimidos.

Uma escrita singular
A escrita mesopotâmica, criada pelos sumérios, é conhecida como cuneiforme justamente porque seus sinais, talhados em placas de argilas, tinham a forma de pequenas cunhas. A localização geográfica e o conseqüente intercâmbio com populações vizinhas fizeram com que essa escrita fosse adotada por quase todos os povos da Ásia ocidental.

Deuses severos e Exigentes
Na mesopotâmia, assim como no Egito, a religião era politeísta. Os povos mesopotâmicos também temiam entidades regidas por forças sobrenaturais como gênios protetores, os heróis e os demônios.
Nos primeiros tempos, cada cidade tinha seus deuses específicos. Quando uma unificação política ocorria, a cidadeprincipal impunha suas divindades às outras.
Os deuses mesopotâmicos eram ao mesmo tempo entidades do bem e do mal. Exigentes e temíveis, adotavam represálias contra aqueles que não cumpriam suas obrigações. Essa crença originou, por exemplo, o mito do dilúvio, desecadeado pelos deuses para castigar os seres humanos.
Diferentemente dos egípcios, os mesopotâmicos não chegaram a se preocupar com a vida além-túmulo. Acreditavam, vagamente, que os mortos iam para junto de Nergal, deus do “reino de onde não se volta”, cujos domínios eram guardados pelos demônios causadores das doenças.


A invenção da astrologia
Os mesopotâmicos devotavam grande consideração aos adivinhos, indivíduos a quem se atribuía a capacidade de descobrir a vontade dos deuses, por meio da interpretação dos sonhos, do vôo dos pássaros ou mesmo dos sinais encontrados no fígado e nas entranhas dos animais sacrificados aos deuses.
O procedimento mais utilizado, no entanto, era a astrologia, conhecida por nós nos tempos de hoje. De acordo com os mesopotâmios, seria possível antever o destino de uma pessoa pela análise da posição dos astros no céu no momento de seu nascimento.

Outros povos do Oriente Próximo
Além dos egípcios e dos povos da Mesopotâmia, inúmeros foram os grupos humanos que habitaram a região do Crescente Fértil.
Sempre em busca de melhores condições de sobrevivência, esses grupos foram ocupando diferentes áreas da região em diferentes momentos.
Estão entre eles cananeus, filisteus, arameus, lídios, hititas, cretenses, fenícios, hebreus, persas, entre outros. Dentre esses povos destacam-se os fenícios, os hebreus e os persas. Cada um deles desenvolveu uma complexa civilização que legou conhecimentos e valores à humanidade que pertencem até os dias de hoje.

Os fenícios
A Fenícia, que corresponde aproximadamente ao Líbano atual, era uma estreita faixa de terra, espremida entre as montanhas entre as montanhas e o mar e com poucas áreas cultiváveis. Fixaram-se nessa região por volta de 3.000 a.C.

A pobreza do solo para a prática da agricultura fez com que os fenícios se dedicassem inicialmente à atividades como a pesca e a extração de cedro, madeira abundante em florestas no interior dessa região.
A proximidade com a costa marítima e a intensificação gradual das atividades pesqueiras contribuíram para que os fenícios se dedicassem à construção de embarcações e se tornassem hábeis navegadores.
Ao contrário dos egípcios, os fenícios não constituíam um império territorial com governo único e centralizado. Sua forma de organização política foi a cidade-Estado, sistema pelo qual cada cidade tinha seu próprio governo independente das outras. Dessa forma, quando falamos da Fenícia, estamos nos referindo ao conjunto de cidades-Estado que abrigavam a população fenícia. Entre as principais cidades fenícias, três exerceram a supremacia política na região: Biblos, Sídon e Tiro.
Sob o domínio de Tiro, a sociedade fenícia alcançou o período de maior poder. Seu porto chegou a ser, entre os séculos XII e VII a.C., o mais importante centro de comércio e de artesanato do Mediterrâneo oriental. Sua primazia foi enfraquecida por lutas entre as famílias dominantes da cidade. Com a decadência, a Fenícia acabou sendo conquistada, sucessivamente, pelos babilônicos, persas e macedônicos.
Durante esse período, os fenícios navegaram por todo o Mediterrâneo, fundando colônias e organizando numerosos locais para a prática do comércio. Assim, acabaram expandindo seus domínios e intensificando as relações com povos diferentes.
Pouco antes da tomada de Tiro, os fenícios fundaram a colônia de Cartago, no norte da África. Após a conquista definitiva de Tiro, alguns de seus habitantes fugiram e se instalaram na colônia africana. Posteriormente, Cartago transformou-se num importante império marítimo, que mais tarde, disputaria com os romanos o domínio do Mediterrâneo ocidental.

O alfabeto
Os fenícios foram grandes navegadores, colonizadores e comerciantes. Entretanto, sua mais importante contribuição para as sociedades atuais foi a criação, por volta de 1500 a.C., dos símbolos que possibilitaram a forma moderna de escritura: o alfabeto.
O desenvolvimento do alfabeto pode estar relacionado com a busca de uma forma rápida e fácil de registrar as transações comerciais. Em vez de centenas de caracteres da escrita cuneiforme ou hieroglífica, os fenícios desenvolveram um conjunto de apenas vinte e duas letras que correspondiam ao som da voz humana.
O alfabeto seria aperfeiçoado pelos gregos, que acrescentaram cinco vogais às consoantes fenícias. Adotado posteriormente pelos romanos, passou por outras transformações e assumiu a forma conhecida atualmente.

Os hebreus
Os hebreus eram um dos muitos povos semitas que habitavam a região do Crescente Fértil. A importância desse povo reside, principalmente, no fato de ele ter introduzido a primeira religião monoteísta entre os povos da Antiguidade.
Da religião dos hebreus, baseada na crença em um só Deus (em hebraico, Iavé, posteriormente traduzido para Jeová), derivam o cristianismo e o Islamismo.
Muito do que se sabe a respeito da história antiga dos hebreus – também chamados israelitas ou judeus – baseia-se no Antigo Testamento, a primeira parte da Bíblia. Pesquisas arqueológicas feitas nas regiões descritas nesses relatos confirmaram muitos dos acontecimentos ali contados.

Canaã, a Terra Prometida
No início do segundo milênio a.C., os hebreus estavam estabelecidos nas imediações da cidade de Ur, na Mesopotâmia.
Vivendo do pastoreio, organizaram-se em clãs ou tribos, grupos familiares dirigidos pelos homens mais idosos, chamados de patriarcas. Segundo a bíblia, coube ao patriarca Abraão, obedecendo a ordem de Deus, partir com seu povo em direção à Terra Prometida, chamada depois de Canaã ou Palestina.
Mais tarde, pressionado, pela escassez de alimentos, uma parte dos hebreus, sob o patriarcado de Jacó, deixou Canaã e migrou para o Egito, por volta de 1.600 a.C. Nesse momento, os hebreus haviam sido reduzidos à condição de escravos. Por volta de 1.200 a.C., conduzidos por um novo chefe chamado Moisés, eles fugiram do vale do Nilo, episódio conhecido na Bíblia como Êxodo.
Depois de permanecer quarenta anos no deserto, Moisés reconduziu seu povo a Canaã, cuja posse tiveram que disputar com os cananeus, estabelecidos na região, e com os filisteus, que chegaram depois.
Distribuídos em doze tribos independentes, os hebreus foram, lenta e dificilmente, impondo seu domínio. Para conduzi-los nas inúmeras guerras, que tinham de travar, escolhiam um chefe militar, chamado de juiz.
A monarquia
A necessidade de lutar pela posse de terras acabou levando os judeus a estabelecer uma autoridade única para todas as tribos. O juiz, assim, transformou-se em juiz. O primeiro rei a assumir o poder foi Saul, vindo a seguir Davi e Salomão.
Após a morte de Salomão, ocorreu a Cisma (divisão) das tribos hebraicas (926 a.C.). As dez tribos ao norte constituíram o Reino de Israel, com capital em Samaria; as duas tribos restantes formaram o Reino de Judá, ao sul, cuja capital foi instalada em Jerusalém. Em decorrência dessa divisão interna, houve um enfraquecimento militar, estimulando ataques de povos vizinhos. O Reino de Israel foi invadido e ocupado pelos exércitos assírios no reinado de Sargão II, no século VIII a.C. Judá não resistiu às tropas do rei caldeu Nabucodonosor, que destruíram o Templo de Salomão e levaram os hebreus cativos para a babilônia, em 587 a.C. O episódio, conhecido como cativeiro da Babilônia, só terminou em 539 a.C., quando o rei persa Ciro conquistou a Mesopotâmia e libertou os hebreus, permitindo-lhes regressar aos seus antigos territórios entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo. O Templo foi restaurado e os hebreus mantiveram uma política de aliança com o império persa, do qual a Palestina se tornou uma parte.
Invasões e domínios tornaram-se comuns na Palestina a partir de então, como a conquista macedônica liderada por Alexandre, em 332 a.C. Em 63 a.C. sobreveio a invasão romana, contra a qual os hebreus se revoltaram em 70 d.C., mas, derrotados, foram forçados a deixar a Palestina, dispersando-se pelo Império Romano. Esse episódio ficou conhecido como Diáspora, somente encerrada com a criação do Estado de Israel, em 1948.

Os persas
No segundo milênio a.C., a região situada a leste da Mesopotâmia era ocupada por dois povos: os persas e os medos. Os medos estavam fixados no norte do planalto, enquanto os persas se estabeleceram na parte sudeste, próxima ao golfo Pérsico, região hoje ocupada pelo Irã.
Grandes conquistadores, os persas dominaram a Babilônia, a Palestina, a Fenícia e o Egito, fundando o maior império daquela região até então. Sabiam domar e usar com habilidade os cavalos, e sua superioridade militar se devia à cavalaria e a seus carros de guerra.

O reinado de Ciro
Inicialmente, eram os medos quem mantinham o controle da região, dominando os persas. Coube a Ciro (549-529 a.C.), inverter a relação, submetendo os medos e tornando-se soberano dos dois povos. Ciro foi responsável por outras conquistas que deram origem ao grande Império Persa.
Ciro deixou uma imagem de tolerância. Não interferia na religião nem promovia extermínio, transferências ou escravização dos vencidos. Morto em combate, foi sucedido pelo seu filho, Cambises, que conquistou o Egito em 525 a.C. Mas foi no governo de Dario I que os persas viveram o período de maior estabilidade. Nele, o Império Persa cresceu, estendendo-se do Mar Negro e do Egito até a fronteira ocidental da Índia.
Ao tentar subjugar a Grécia, contudo, Dario I sofreu sua primeira grande derrota. A partir de então, teve início o enfraquecimento e o conseqüente declínio do Império.

A organização do Império
O imperador era considerado um representante de Ormuz o deus do bem. A política de Ciro de permitir que cada povo conquistado conservasse o governo, a religião, a língua e os costumes próprios foi mantida por seus sucessores.
Com o tempo, o Império foi dividido em províncias, denominadas Satrapias, que eram administradas por um sátrapa (espécie de governador). A principal função dos sátrapas era a cobrança de impostos.
Para assegurar o acesso e o controle de cada recanto do vasto império, foram construídas longas estradas. A principal delas ligava Sardes a Susa. Um eficiente serviço de correios mantinha o imperador informado do que se passava em todas as províncias.
Outra importante contribuição do Império foi a generalização do uso da moeda para facilitar o comércio e a cobrança de impostos em todo o território.

O Bem e o Mal
Os persas assimilaram grande parte da escrita, do conhecimento e da arte dos povos conquistados, principalmente a culturas dos mesopotâmios e dos egípcios.
A religião, ao contrário, possuía caracteristicas próprias e diferenciadas. Ela havia sido difundida no século VII a. C. pelo sábio Zaratustra (Zoroastro para os gregos).
O zoroastrismo apregoava a existência de dois princípios opostos: O Bem e o Mal. Aura Mazda (Ormuz), criador do céu, da terra, dos seres humanos e de tudo o que havia de bom. Era auxiliado por uma legião de gênios benfeitores, dos quais o mais conhecido era Mitra, e combatido por Ahrimam, deus do mal, e pelos seus auxiliares, os demônios. Os persas acreditavam que no final dos tempos o bem deveria vencer o mal e dar início a uma vida feliz na Terra.
O zoroastrismo ensinava que, três dias após a morte, a alma era julgada e os seus atos pesados. Caso absolvida, a alma ganhava a felicidade eterna; se condenada, tombava no abismo das trevas e da dor. O zoroastrismo influenciou muitas religiões. Com o tempo, porém, foi se subdividindo até quase desaparecer. Hoje subsiste principalmente na Índia.